quarta-feira, 6 de maio de 2009

Abrindo as Gaiolas com a ALF

Uma Entrevista de Derrick Jensen com David Barbarash
Publicado no Earth First! Journal, Yule 2002

DJ: O que é a ALF?
DB:
A Frente de Libertação Animal não é realmente uma organização, mas é mais um movimento internacional de ativistas de libertação animal que acreditam que os métodos convencionais de protesto não são o suficiente para obter os objetivos da libertação animal, e que existe uma justificativa moral para agir fora da lei. Os ativistas operam anonimamente, geralmente à noite, em estruturas de células de duas a oito ou mais pessoas. Algumas vezes você pode ter um ativista da ALF saindo sozinho indo pichar um muro, mas geralmente até para ações simples como essa você vai querer alguém observando a rua.
Os membros da ALF seguem um código rígido de não-violência. Isso significa que não ocorrerá dano, ferimento ou morte para quaisquer animais, humanos ou não-humanos, durante qualquer ação. Nós não consideramos que a destruição de propriedade seja uma ação violenta, porque nós não acreditamos que você possa causar violência contra algo que não está vivo, que não pode sentir dor.
Os objetivos da ALF são de libertar os animais de laboratórios ou outros lugares de abuso. Nós os libertamos na natureza sempre que possível, como no caso das fazendas de peles de raposas ou martas. Por razões óbvias os animais libertados de laboratórios não são soltos na natureza, mas são postos em lares. Na verdade encontrar lares para estes animais faz tanta parte da ação quanto retirá-los dos laboratórios.
Além de libertar animais, a ALF participa no que nós chamamos de sabotagem econômica: nós destruímos propriedade usada para abusar, torturar, e matar animais. Nós traçamos um paralelo com os lutadores da liberdade na Alemanha Nazista, que libertaram prisioneiros de guerra e destruíram equipamentos utilizados pelos Nazistas para torturar ou matar suas vítimas. Existia uma justificativa moral para agir naquela época, e nós acreditamos que exista hoje também.
A ALF não possui uma hierarquia de espécie: nós não colocamos os humanos acima dos animais como também dos seus direitos inerentes de viver, e de viver sem serem torturados. Nós não vemos uma diferença fundamental entre um humano morto em uma câmara de gás na Alemanha Nazista ou uma marta morta por gás em uma fazenda de peles.

DJ: Qual o objetivo da ALF? São seis pessoas fazendo uma ação por ano?
DB:
É difícil medir o objetivo porque nós não ficamos sabendo de todas as ações, por exemplo pichar paredes, ou ir ao McDonald’s e quebrar janelas. Nós ouvimos sobre as ações principais - os incêndios, as libertações - e nos últimos anos têm ocorrido um aumento significativo nas ações contra laboratórios e em instalações de pesquisa de universidade. Antes disso, esses tipos de ações haviam caído por um bom tempo, já que essas instalações haviam ficado mais cientes de nossas táticas e aumentaram sua segurança. Mas no último ano nós tivemos quatro ou cinco ataques contra instalações de pesquisa de universidade ou laboratórios de vivissecção na América do Norte, incluindo a libertação dos animais destes laboratórios, além de um número de ataques menores a abatedouros, lojas de peles, fazendas de peles, e assim por diante. Nós também estamos vendo um aumento no uso de incêndio pelo uso de dispositivos incendiários.

DJ: O que, é claro, necessita retirar os animais primeiro.
DB:
Incêndios não são feitos em estruturas onde vidas possam estar envolvidas. Eu acho que é possível que se todos os animais fossem soltos a instalação seria queimada, mas normalmente a ALF só é capaz de remover uma certa porcentagem desses animais.

DJ: Como alguém escolhe quais remover?
DB:
É difícil, especialmente quando você sabe o que vai acontecer com aqueles que você deixa para trás. Eu encarei esse dilema em um ataque que fiz em Edmonton. Nós retiramos vinte e nove gatos, mas tivemos que deixar o resto para trás. Nós também tivemos que deixar cães, e todo o tipo de outros animais. Você tem que encontrar lares para os animais antes de fazer a ação, então se você encontrou lares para trinta gatos e cinco cachorros, é tudo o que você pode levar, ao menos que você queira correr o risco de achar um lar depois.
Por razões básicas de segurança, as pessoas que acolhem os animais não são as mesmas que os libertam. Ao invés disso as pessoas que criam santuários para esses animais fazem parte de uma rede solta que nós chamamos de Underground Railroad (ferrovia subterrânea), em nome ao movimento de libertação dos escravos norte-americanos.

DJ: Então existe uma grande rede de suporte.
DB:
Como é verdade para qualquer rede clandestina ou revolucionária, a ALF não seria tão efetiva se não houvesse uma rede de suporte. Eu não tenho nenhum contato direto com os membros da ALF, mas eu sou considerado uma parte da rede de suporte, porque eu sou o contato de mídia. E então existe um grupo de suporte em Guelph, Ontario, que levanta fundos para ativistas aprisionados da ALF, e publica ações e outras questões em sua revista, a Underground. Além disso, existe uma rede informal de ativistas de direitos dos animais no movimento não-clandestino que apóia o trabalho da ALF. A Underground Railroad hospeda animais resgatados e algumas vezes até ativistas da ALF. Sem o apoio dessas pessoas, a ALF não seria tão bem sucedida.

DJ: Como o contato é feito entre os libertadores e a Underground Railroad sem entregar as identidades dos libertadores?
DB:
Isso é um risco. Os ativistas da ALF têm que pessoalmente se aproximar de indivíduos que eles acham que são simpatizantes e se importam com os animais. Quando eu falo sobre a Underground Railroad, eu não quero dizer que existe uma rede formal comunicando uma com a outra. Em vez disso, é um grupo informal de pessoas que se importam com os animais e estão dispostas a cuidar deles. Se realmente existirem preocupações quanto à segurança, o ativista da ALF terá um intermediário em que confia para fazer o contato. A ALF sempre opera na base de que uma pessoa só sabe do que precisa saber, geralmente somente conversando sobre ações entre eles mesmos. Se os ativistas são espertos o bastante, eles não se gabam sobre suas ações para outras pessoas, ou usam o telefone, ou qualquer coisa assim.

DJ: De onde a ALF veio?
DB:
Começou no Reino Unido em 1976. Antes disso, na década de 60 e no início da de 70, os ativistas de direitos dos animais começaram a Associação de Sabotadores da Caça, que sabotava as caças às raposas soprando apitos, chamando os cachorros, e assim por diante. Esse movimento continua até hoje: é muito amplo, e forte o suficiente que até o governo do Partido Trabalhista do Tony Blair está considerando banir a caça às raposas. Essa era realmente uma questão perfeita para começar, já que a caça às raposas é um alvo bem fácil. É tão cruel, e existem questões óbvias de classe envolvidas.
No começo dos anos 70 alguns membros da Associação dos Sabotadores da Caça formaram uma outra organização chamada Band of Mercy para que eles pudessem concentrar em outras questões, e também para que eles pudessem começar a empregar outras táticas, como destruição de propriedade. Em 1973 a Band of Mercy incendiou uma companhia farmacêutica, e em 1974 e 1975 eles libertaram animais de criadores de animais para laboratório e de laboratórios de vivissecção.
Alguns desses ativistas eventualmente foram presos. Quando Ronnie Lee foi preso em 1976, ele reformou a Band of Mercy para a Frente de Libertação Animal. Em 1979 eles fizeram sua primeira aparição na América do Norte, quando um grupo sob a bandeira da ALF atacou a Universidade de Nova York e libertou dois cachorros. Eles surgiram no Canadá em 1980 com um ataque ao Hospital para Crianças Doentes onde eles libertaram alguns gatos. Esse ataque levou à famosa foto que apareceu na primeira página do Toronto Star de um gato sem orelhas. Pelos últimos vinte anos as ações têm acelerado.
Os últimos anos têm visto o desenvolvimento da ELF, ou Frente de Libertação da Terra. Uma ramificação do Earth First!, eles são similares à ALF em suas táticas e filosofia, exceto que seu foco se expandiu para incluir a terra e a ecologia como também os animais.
Sendo uma organização muito mais nova, a ELF não tem tantas ações assim, mas tiveram algumas bem grandes. Eles são os responsáveis pelo ato mais caro de sabotagem econômica da América do Norte, queimando cinco estruturas, incluindo um imenso restaurante, em um estação de esqui próxima de Vail, Colorado.
A estação de esqui estava expandindo em uma área pública sem estradas - alguns dos últimos habitats do lince no estado - em um ataque massivo de destruição ambiental (e bem-estar corporativo). Cinco dias depois das tentativas de consertos legais acabarem e ser dada a permissão de continuar a expansão da estação de esqui, os ativistas da ELF queimaram as construções, custando à corporação responsável doze milhões de dólares. Desde então um grande júri foi reunido, que almejou ambientalistas locais, mas nenhuma acusação jamais foi feita, ou os suspeitos identificados. Eu acho que o ato mais custoso de sabotagem econômica antes desse na América do Norte foi em 1987, quando a ALF queimou o UC Davis Diagnostic Laboratory, que estava sendo construído. O custo desse foi de cerca de cinco milhões de dólares.
Eu preciso acrescentar que quando nós falamos sobre os custos da sabotagem econômica, estes são apenas os custos imediatos. Nós esperamos, é claro, que nós possamos convencê-los a não reconstruírem, correndo o risco de enfrentarem conseqüências similares de novo. Mas mesmo que eles reconstruam, as ações irão continuar a custar-lhes porque eles terão que aumentar a segurança. E eles sabem que sempre serão um alvo.
Existem outros custos que são associados com sabotagem, também. Se você apenas queimar uma estrutura como um armazém de alimentos de fazendas de peles, você vai causar danos de um milhão e meio de dólares, e é isso. Mas se você destrói os equipamentos de computador em um laboratório de uma universidade, você estará retirando de cinco a dez anos de pesquisa, muito do que terá de ser refeito, ou até mesmo perdido para sempre.

DJ: Eu leio todo o tempo - talvez algumas vezes por mês - sobre ativistas destruindo plantações criadas por engenharia genética. Isso é da ELF?
DB:
Algumas vezes. Mas muitas dessas ações foram reivindicadas por vários grupos como o Reclaim the Seeds, Future Farmers of America, e assim por diante. Esses grupos estão aparecendo em todos os lugares; existe um descontentamento enorme com o status quo, e está se manifestando em todo lugar em forma de ações.

DJ: A ALF faz algum tipo de ação hacker?
DB:
Existia uma facção da ALF chamada algo em torno de ALF Internet Task Force que atacavam empresas com um programa chamado floodnet, gerando um número enorme de emails em certas contas e assim sobrecarregava seus sistemas. Eles fizeram isso algumas vezes, e não ouvi falar mais deles. Eu sei que essas ações ocorrem todo o tempo, mas é muito raro elas serem reivindicadas pela ALF ou qualquer outro grupo.

DJ: Quão heterogênea é a ALF?
DB:
Por ser um movimento clandestino, nós obviamente não temos um número preciso. Mas nós temos uma idéia baseado em quem é preso e condenado. Na América do Norte nós tivemos todos o tipos, desde jovens garotos punks, adolescentes anarquistas, pessoas em seus vinte e trinta anos como eu mesmo e meu parceiro resgatador de gatos, Darren Thurston, até avós e mulheres mais velhas como as Chatham Five, que foram condenadas por soltarem martas de uma fazenda de peles em Chatham, Ontario.
Já ocorreram um bom número de estudos no movimento de direitos dos animais, e eles costumavam dizer que o ativista de direitos dos animais médio era uma mulher branca, de meia-idade e de classe média. Eu não tenho certeza que isso ainda é verdade. Eu acho que a ALF é composta dessas pessoas, e pessoas com dreads, e pessoas que acreditam que os direitos dos animais sejam o único problema e não se preocupam com outras questões de justiça social, e pessoas que estão cientes do racismo, sexismo, homofobia, e que trabalham em todas essas questões. Eu tenho que dizer, entretanto, que pelo menos por agora não existem muitas pessoas de cor no movimento, com algumas exceções, como Rod Coronado, que é meio Índio Yaqui, meio Mexicano.

DJ: Eu já ouvi falar dele.
DB:
Como eu mesmo, Rod Coronado esteve envolvido com ação direta não-violenta por muitos anos. Eu me lembro em 1989 quando eu e quatro amigos estávamos sendo acusados em Toronto por picharmos uma loja de fast-food da KFC e de outras ações menores da ALF, Rod e dois de seus amigos estavam com acusações similares em Vancouver. Mas antes disso ele se responsabilizou por uma ação da Sea Shepherd que envolveu fazer rombos em navios baleeiros e destruir uma fábrica de processamento. Rod também passou tempo na prisão por liderar uma campanha da ALF contra a indústria de peles que envolveu soltar animais e incendiar laboratórios de pesquisa de peles.

DJ: Como você responde ao rótulo que vocês tem tão frequentemente da impressa corporativa, sobre serem ecoterroristas ou terroristas de direitos dos animais?
DB
: Eu rejeito completamente o rótulo terrorista. As pessoas que possuem um interesse especial em abusar ou matar animais não vão querer entender sobre o que é a ALF, e irão tentar se certificar de que ninguém mais entenda também. Então eles retratam os ativistas da ALF ou ELF como terroristas. Mas aqui está a minha pergunta para eles: Onde está a contagem dos corpos? Me mostrem as pessoas que morreram ou se feriram como um resultado das ações de libertação animal. Me mostrem até mesmo um bombeiro ferido enquanto apagava um fogo causado pela ALF. Eles não podem, porque ninguém jamais foi ferido.
Apesar disso, eu te conto o que têm acontecido. Os ativistas têm sido atacados com bombas. Os ativistas têm levados tiros. Eu posso te mostrar pessoas que foram espancadas e postas no hospital em protestos comuns contra peles, e pessoas que tiveram todos os seus dentes golpeados com tacos de baseball. Eu posso te contar sobre ativistas da ALF que levaram tiros nas costas. Eu posso te mostrar uma lista de abusadores de animais - pessoas que violentam animais como um modo de vida - que utilizaram violência como uma forma de combater libertadores de animais. Eu não consigo achar um caso de uma vítima de violência de um libertador animal, mas mesmo assim nós somos o que são rotulados de terroristas. É absurdo.

DJ: E quanto às lâminas de barbear?
DB:
Um grupo chamado Justice Department, uma facção extrema do movimento de libertação animal, disse que eles estão dispostos a ferir humanos para ir mais adiante com os objetivos da libertação animal. Eles fizeram essas campanhas de mandar cartas com armadilhas com lâminas de barbear na Inglaterra, nos E.U.A. e no Canadá, tendo como alvos indivíduos associados com crueldade animal e abuso. Não é incomum na sociedade humana ter pessoas inclinadas a fazerem violência e ferir os outros, e o movimento de libertação animal não é diferente. O mesmo vale para os anti-aborcionistas, os liberacionistas dos negros, os soberanistas nativos, e outros. O Justice Department é claramente uma pequena minoria, e a vasta maioria dos defensores dos direitos dos animais são não-violentos. Mas mesmo quando você analisa as ações de lâminas de barbear do Justice Department e a quantidade de dano que eles realmente podem causar em alguém, como isso se compara com o que os animais em laboratórios enfrentam ou com aqueles que são caçados? Eu não vou justificar esse tipo de violência, porque eu não acredito nela, mas eu não acho que causar cortes de lâminas em dedos se iguala a terrorismo, não comparado com o que é infligido em ativistas por abusadores de animais, e certamente não comparado ao que, por exemplo, o exército americano faz como rotina, e absolutamente não comparado com a vasta tortura de animais não-humanos no qual nosso sistema é baseado.

DJ: Mesmo se incluirmos os cortes por lâminas - e eu percebo que as lâminas não foram enviadas pela ALF - parece que o nível de esforço em oprimir a ALF é geralmente bem maior do que o dano - e eu não estou pensando sobre os liberacionistas e sabotagem - que eles na verdade fazem.
DB:
O nível de repressão é bem maior somente se você usa uma filosofia de senso comum sobre como o mundo deve funcionar. A ALF pode não ser perigosa em termos de danos reais que causamos, apesar de termos causado milhões de dólares em danos às indústrias como as fazendas de peles, mas nós somos muito perigosos filosoficamente. Parte do perigo é que nós não acreditamos na ilusão de que propriedade vale mais do que a vida, o que é uma das suposições fundamentais e geralmente não declaradas de nossa cultura. Nós trazemos essa prioridade insana à luz, o que é algo com que o sistema não pode sobreviver.
Eu me lembro de que quando eu estava na prisão por ter libertado gatos e criado um pouco de destruição de propriedade - não usando fogo ou algo assim, apenas pichando - me negaram fiança porque, como o juiz disse, eu “era um perigo para o público.”

DJ: E você é vegan. . . .
DB:
Eu nem mesmo como mel, porque eu não gosto de ferir qualquer ser vivo. Mas durante meu tempo encarcerado eu vi pessoas virem e irem pela porta giratória da cadeia, pessoas que batem em suas esposas ou namoradas, que entravam em brigas nas ruas, que esfaqueavam pessoas. Para eles, a fiança custava geralmente entre 500 a mil dólares.
Nós pedimos ao juiz até mesmo para colocar minha fiança em um preço ridiculamente alto, como $100.000, mas ele não aceitou. Realmente existe algo de errado com nossa cultura. Se você espanca um estrangeiro, não é um problema. Se você espanca sua esposa ou sua namorada, não é um problema. Se você comete crimes por motivos puramente egoístas - você quer ficar rico, você quer coisas - não é um problema. Mas se você comete crimes por razões políticas, é perigoso, porque ameaça as estruturas em que nossa sociedade está baseada. As indústrias de exploração animal como a agricultura animal, pesquisa médica, e a indústria farmacêutica formam algumas das bases de nossa sociedade. Elas estão no centro do que nós chamamos de civilização.
Mas existe outra razão para a repressão. Os ativistas da ALF e da ELF organizam-se em uma estrutura bem anarquista, e são peritos em agirem sem serem pegos, e sem deixarem provas. Eles sabem como utilizar segurança de internet, eles sabem como viajarem anonimamente, e eles sabem como criar fundos para suas ações. Mas aqui está: na maior parte os ativistas são pessoas bem normais, vivendo vidas normais, muitos até tendo empregos normais. Isso é uma ameaça real para o estado, porque eu acho que aqueles no poder entendem - talvez não em um nível consciente, mas certamente em suas entranhas - ao que isso poderia levar quando um número suficiente de pessoas normais decidirem que cansaram dessa ilusão de sociedade, e querem fazer algo sobre isso, querem fazer uma mudança. Não necessariamente por razões de libertação dos animais ou da terra, mas porque eles estão cansados de receberem seis dólares por hora por uma porcaria de emprego, ou serem incomodados pelos policiais por causa da cor da pele, ou eles estão simplesmente cheios porque eles querem viver vidas genuínas, sentindo emoções genuínas, e fazendo algo significativo.
Talvez até mais importante do que as ações de libertação e sabotagem são as idéias e as possibilidades que a ALF e a ELF oferecem para pessoas normais sobre como eles podem se organizar e agirem de uma maneira segura, focada e direta.

DJ: Eles também oferecem vitórias tangíveis, algo que é extremamente raro pelo menos no movimento ambiental.
DB:
Nós estamos vendo vitórias no movimento de libertação animal, mais na Europa e na Inglaterra do que aqui. Nós estamos começando a ver proibições de fazendas de peles em países como a Bélgica, ou governos locais adotando medidas como banir animais em circos ou a importação de baleias e golfinhos selvagens.
A indústria de peles está dizimada na Inglaterra, onde só algumas fazendas de peles permanecem. Por protestos contínuos e ataques, nós conseguimos fechar o principal criador de gatos para pesquisas de laboratório, como também muitos criadores de cães para pesquisa. A Inglaterra é um caso especial, porque existe um movimento muito forte lá, mas em todos os lugares nós estamos ganhando essas vitórias reais, realmente fechando esses lugares de tortura.

DJ: Eu adoro o fato de que mesmo quando as ações são pequenas, os ativistas ainda estão tomando a ofensiva. A maioria de nossas batalhas ambientais são puramente defensivas: tentando impedir esse ou aquele pedaço de destruição.
DB:
As ações são sobre tomar responsabilidade. É nisso que a ALF se baseia. Está dizendo, “Eu estou cansado de esperar que as pessoas a que estamos fazendo petição ajam para parar o abuso animal, porque eles ou não o estão fazendo ou estão demorando demais e os animais ainda estão morrendo.” Se eu não vou tomar responsabilidade pelo sofrimento desses animais, a dor desses animais, que eu sei que está continuando todos os dias, toda hora, eu realmente tenho que tomar alguma ação para parar com esse insulto moral.

DJ: Eu li na imprensa corporativa que a ALF vai roubar os animais de estimação das pessoas.
DB:
É claro que não. Para onde você pensa que os animais que libertamos dos laboratórios vão?
Eu tenho que ser claro sobre como a ALF escolhe seus alvos. Cada célula individual decide por ela mesma em quê elas irão concentrar, e quais táticas irão usar. Uma célula pode decidir concentrar em libertação de galinhas e podem escolher atacar uma granja industrial e salvar algumas galinhas. Outro grupo da ALF pode escolher as fazendas de peles e soltar martas. E outro pode ter como alvo caminhões de carne utilizando dispositivos incendiários. Por causa dessa absoluta autonomia das células individuais, você nunca sabe quem ou o que a ALF irá ter como alvo.
Tendo dito isso, tem sido bastante comum que a ALF não almeja normalmente um pescador individual ou caçador ou abusador de animal de estimação, apesar de que eles vêem problema com tudo isso. Taticamente é muito mais forte concentrar em alvos maiores, alvos industriais, aqueles que vão fazer diferença. Se você vai gastar todo aquele tempo e energia e dinheiro, você vai arriscar perder seu disfarce, você vai arriscar ser acusado de crimes capitais e muito tempo em prisão, você não quer desperdiçar isso em algo de pouca significância ou conseqüência.

DJ: Eu vejo uma analogia com meu próprio trabalho ambiental, em que apesar de que eu me oponha a todo o florestamento industrial, eu geralmente trabalho com madeireiros independentes contra as empresas madeireiras transnacionais. Os madeireiros e eu ambos sabemos que em nossas vidas a oposição é muito mais teórica, porque nós estamos tão ocupados lutando contra esse inimigo que é bem maior.
DB:
Isso é análogo, mas não completamente. Apesar de que alguns de nossos alvos principais da indústria de venda de peles inclua as lojas Niemann-Marcus, Macy’s, e Bloomingtons, nós também almejamos lojas de peles de famílias. O mesmo é verdade para açougueiros e abatedouros. A razão é a de que podem existir só duas ou três lojas que vendam pele em uma cidade, e se você quer eliminar todas elas, você quer eliminar todas, não importando quem seja o dono. Algumas vezes as grandes lojas de departamento são mais fáceis de ter como alvo, porque eles não estão tendo muito lucro com suas peles nesse momento, significando que se você causar a eles muitos danos monetários eles podem ser convencidos de que suas linhas de peles não valem o esforço. Obviamente que se a loja é focada somente em peles, será mais difícil convencê-los a saírem do negócio, mas nós já fechamos lojas por causa de ataques repetidos em suas janelas, ou de incêndios.

DJ: Como você responde às críticas de que ao interferir com pesquisa animal você está matando crianças: se você não tivesse libertado nenhum gato, os pesquisadores já teriam achado uma cura para a leucemia.
DB:
A pesquisa animal forneceu algumas medidas temporárias para algumas das doenças da sociedade, como doenças ambientalmente causadas como o câncer ou a AIDS, e mais amplamente a ciência conseguiu criar alguns medicamentos que permitem que as pessoas vivam mais. Mas a ciência não curou essas doenças, e por um número de razões eu não acredito que irá.
Para começar, eles estão utilizando modelos animais, que é ciência fraudulenta. Você não pode dar a um rato a doença de Alzheimer, criar um procedimento que ajuda o rato, e dizer, “Vamos aplicar isso em humanos e ver o que acontece.” Se você vai observar essas doenças, você tem que observar em humanos, você tem que olhar em estudos clínicos e tentativas, e você tem que olhar no ambiente.
Câncer é um ótimo exemplo. É uma doença da civilização industrial ocidental. Isso, é claro, é a verdade de muitas das doenças que nós estamos infligindo em nós mesmos. Olhe para os produtos químicos e venenos que comemos em nossa comida, respiramos em nosso ar, e bebemos em nossa água. Olhe para o stress que as pessoas estão tendo em suas vidas diárias para irem trabalhar, sustentarem suas famílias, pagarem suas contas, e viverem sob essa democracia repressiva que se assemelha com nada mais do que uma grande prisão.
Outra razão é que é fraudulenta, e o câncer não será curado, porque “curar” é uma indústria multibilionária. As pessoas que ganham salários de seis ou até sete dígitos como os administradores de institutos de câncer e corporações farmacêuticas não vão fechar essa torneira de dinheiro. Eles farão qualquer coisa para continuar com seus negócios, incluindo torturar milhões de milhões de animais.

DJ: Você continua falando sobre tortura, mas eu escuto na imprensa corporativa todo o tempo que os animais na verdade são muito bem tratados. Existem leis nos livros dizendo que eles têm que anestesiar os animais antes da cirurgia, e assim por diante.
DB:
Bem, eles não usam anestesia quando eles fazem estudos sobre dor. Os gatos que eu resgatei do laboratório estavam destinados a terem suas espinhas dorsais quebradas para estudar como conserta-las; eu não consigo imaginar que não haveria dor envolvida. Bebês primatas têm seus olhos fechados e costurados em experimentos de privação. Cordas vocais são geralmente cortadas para que os animais não possam gritar durante suas torturas. Você já teve uma cirurgia? Claro, você foi anestesiado durante a cirurgia, mas depois você sentiu dor? Claro que sentiu. É por isso que depois eles te dão medicamentos para a dor.
Mas tudo volta para a grande questão filosófica, que é se você considera que tanto os humanos quanto os não-humanos têm um direito inerente de viverem livres de tortura e abuso, então nunca poderá haver justificativa em torturar um não-humano para encontrar uma cura de uma doença relacionada à espécie humana. É nossa doença, é nossa merda, e nós que temos que lidar com isso. Não pode existir justificativa para criar esse tipo de horror em outro indivíduo porque temos uma crença de que os humanos são maiores do que as outras espécies.

DJ: Essa pode não ser uma pergunta justa, mas se ao torturarem 5700 ratos, ou 570.000 ratos, ou o que for, eles pudessem encontrar uma cura para a leucemia, isso seria bom?
DB:
Eu não acho que seja uma pergunta justa porque eu não acho que irá acontecer. Quando à própria pergunta, eu voltaria e apontaria para a pesquisa médica que os Nazistas fizeram nos Judeus e outros que eles consideravam inferiores. Essa pesquisa é ética? Eu não acho. Simplesmente considerar o outro inferior não nos dá o direito de torturá-los, mesmo se nós acreditarmos que poderemos conseguir informações úteis ao fazê-lo. É uma pergunta ridícula de qualquer modo, e uma que recebo todo o tempo. Se você realmente quer impedir que as crianças peguem leucemia, ou qualquer tipo de câncer, não ponha refinarias de produtos químicos e de óleo em cima de seus aqüíferos, ou jogue spray de Roundup em nosso alimento, ou deixe vazar lixo tóxico em nossos rios e oceanos.
A pergunta também é racista e classista. Aqui está o porquê: nós temos mais de seis bilhões de pessoas no planeta, a vasta minoria desses vivendo na América do Norte e brancos. E mesmo assim quem supostamente essas curas irão salvar?

DJ: Eu me lembro de ter lido há muitos anos atrás que pelo preço de um único bombardeiro B-1, cerca de $285 milhões, nós poderíamos prover tratamentos básicos de imunização, como vacinas para catapora, difteria, e sarampo, para aproximadamente as 575 milhões de crianças no mundo que não os possuem, e então salvar 2.5 milhões de vidas anualmente. O ponto é que salvar as vidas das crianças nunca é o ponto, apesar da retórica.
DB:
Exatamente. Bilhões de bilhões de dólares são gastos e milhões de milhões de animais são torturados, tudo na esperança ilusória de criar curas para uma minoria de indivíduos neste planeta, uma minoria que abusa seus corpos e o ambiente, e então dizem, “Bem, eu tenho câncer por causa de toda essa merda que estou comendo e bebendo, e stress, e a sociedade em que vivemos, então vamos matar um monte de animais porque nós na América do Norte merecemos viver mais.”

DJ: Você mencionou que a cultura assemelha-se a uma prisão. Você passou um tempo preso.
DB:
É engraçado: quando eu saí da prisão e do seu extremo regime de volta à nossa chamada sociedade livre, eu disse, “Uau, ainda temos as paredes da prisão, ainda temos os guardas da prisão. Nós temos um pouco mais de espaço para correr, mas ainda é uma prisão. Não tem muita diferença. Até mesmo em termos do alimento que somos oferecidos.” Realmente abriu meus olhos.

DJ: Eu não quero depreciar a experiência dos estudantes que eu leciono em uma prisão, mas eu tenho que te contar que me lembra tanto a minha escola, só que agora os monitores carregam um cassetete..
DB:
A prisão concentra os capangas mais violentos da escola em uma minúscula área contida. Eu estou falando sobre ambos os internos e os guardas. Os guardas estão lá, obviamente, porque até um certo nível eles têm prazer de fazer parte daquela mentalidade de estar por cima dos outros.

DJ: Como você foi preso?
DB:
Em 1º de Junho de 1992, Darren Thurston e eu assaltamos os canis bioanimais da Universidade de Alberta em Edmonton. Isso era uma instalação de retenção de animais que pegava gatos e cães, a maioria de fazendeiros - que eles pagavam cerca de quarenta dólares por gato que eles pegavam em torno de seus celeiros - ou criadores e os preparavam antes de os enviarem para instalações de pesquisa diferentes dentro da universidade. Eles os iniciavam com dietas especiais ou davam-lhes drogas. Nós levamos vinte e nove gatos, e causamos danos de cerca de $75.000 ao prédio.

DJ: Eram muitos dos gatos ferais?
DB:
Sim. Na verdade tiveram quatro ou cinco que não conseguimos pegar porque eles estavam muito assustados.

DJ: Como alguém acha um lar para um gato feral?
DB:
Algumas pessoas - como fazendeiros com celeiros - pegam gatos ferais. Em nosso caso, encontrar lares mesmo para vinte e nove gatos não foi um problema. Após carregarmos os gatos em caixas individuais, nós fomos a um quarto de um hotel de estrada e tiramos algumas fotos e filmamos para a mídia. Essa foi minha ruína, o que eu vou falar em um minuto. Então mandamos comunicados à imprensa, e entregamos os gatos primeiro para um veterinário para termos certeza de que eles não estavam doentes, e então para seus lares.

DJ: Sem querer incriminar ninguém, mas os veterinários geralmente estão por dentro também, ou você apenas chega e paga para alguém tomar conta de vinte e nove gatos?
DB:
Existem veterinários que também são simpatizantes do movimento de direitos dos animais. Eles podem rapidamente entender o que está acontecendo. Seria muito perigoso usar qualquer veterinário, especialmente após enviar comunicados à imprensa.
De qualquer forma, Darren foi pego porque as autoridades encontraram sua impressão digital em uma garrafa de tinta que usamos dentro da instalação. Nós usamos luvas, claro, mas evidentemente a dele tinha um furo.

DJ: Um pequeno detalhe pode te derrubar. . . .
DB:
O meu erro foi pior. Nós colocamos uma faixa que tinha escrito ALF como pano de fundo no hotel, e então fizemos o vídeo, limpamos o lugar, e saímos. A polícia descobriu o quarto do hotel pelo vídeo e procurou por impressões. Eles encontraram um pedaço de adesivo deixado em uma vara de que foi usada para prender a faixa, e no adesivo eu deixei uma impressão do meu polegar. Foi assim que fui pego. Eles fizeram um mandado para a minha prisão, mas naquela hora eu já estava nos Estados Unidos, onde eu fiquei por dois anos até quando fui apreendido em uma barreira de estrada na Califórnia, o que foi bem emocionante.

DJ: Você estava como clandestino nos EUA?
DB
: Sim, mas não completamente, porque eu ainda estava me associando com alguns ativistas de direitos dos animais conhecidos, e meus amigos.

DJ: Você estava usando seu nome?
DB:
Eu tinha uma identidade falsa. Mas os federais descobriram onde eu estava, e esperaram por mim em uma estrada que levava à casa de um amigo. Foi tudo bem surreal. Tinham provavelmente quinze policiais, todos atrás das portas de seus carros com suas armas sacadas. Por um megafone eles me ordenaram a usar minha mão esquerda para abrir minha porta, e então sair e ajoelhar na calçada, com as mãos na cabeça. Depois que eles me algemaram eles andaram curvados até o meu carro com as armas sacadas para ter certeza que meu carro estava seguro.

DJ: Conte-me de novo o quanto de danos você causou em sua ação.
DB:
Setenta e cinco mil dólares.

DJ: Quanto eles gastaram até te pegarem?
DB:
Eu estive sob investigação desde 1995. Eu tenho certeza que eles gastaram milhões de dólares em mim. Eu ainda estou sempre sob investigação, e ainda sempre sob vigilância. Eu acho que você poderia dizer que é minha forma de sabotagem econômica contra o Estado.
De qualquer forma, eu fui preso, e passei as próximas três semanas em nove instalações diferentes na Califórnia até quando eu fui formalmente deportado. Eu fui enviado para o Centro de Detenção de Edmonton, que é uma instalação de retenção, onde me negaram a fiança. Eu passei ao todo quatro meses antes de me declarar culpado por ser encobridor do crime após o fato de arrombamento e invasão.

DJ: Após o fato?
DB
: Eles só podiam me colocar no hotel. Thurston levou a pior porque sua impressão estava na cena, e também porque ele já tinha sido acusado de um incêndio de uma ação anterior. Ele passou um total de dois anos preso. Após eu ter sido o sujeito de uma caçada internacional, e de ser chamado de um perigo para o público, eu fui sentenciado em tempo de prisão cumprido e probatória.

DJ: Qual o maior tempo que qualquer ativista da ALF já foi preso?
DB:
Rod Coronado foi sentenciado a cinqüenta e sete meses, mas isso incluía uma acusação não relacionada. Ele foi condenado por roubo e destruição de propriedade federal por ter levado um diário de um homem da cavalaria do museu de Little Big Horn. Eu não tenho certeza de quanto tempo ele seria condenado se ele não fosse condenado por isso. De qualquer jeito, ele passou cinqüenta e sete meses e agora está livre.

DJ: Quanto custa fazer uma ação?
DB:
O custo depende do objetivo, e geralmente vem em forma do dinheiro da gasolina e em quartos de hotel, se você escolher dormir em hotéis quando você está na estrada ou fazendo vigilância. Uma ação acontece em uma noite, mas podem haver noites ou semanas de vigilância antes.
Uma carta interessante veio de uma célula da ALF após uma ação no último ano. O ataque foi contra uma instalação - Biodevices, na Califórnia - que faz vivissecção em cachorros para marcapassos. Os ativistas da ALF levaram todos os quarenta e seis cachorros, o que foi uma façanha incrível. . .

DJ: Onde eles puseram quarenta e seis cães?
DB:
É por isso que foi tão incrível. Eu não consigo imaginar como eles conseguiram encontrar lares para esse tanto de cães. No que diz sobre retirá-los, eles provavelmente tinha um monte de caixas ou caixas transportadoras de cães, e alugaram um caminhão de capacidade de uma tonelada.

DJ: Não seria perigoso alugar um caminhão?
DB:
Existem formas de fazer isso. Você pode ter uma identidade falsa. Ou uma pessoa simpatizante com um álibi pode oferecer um cartão de crédito. Então se essa pessoa for intimada, ela ou ele terão que decidir se vão falar ou se irão presas por não cooperarem.
De qualquer forma, um dos ativistas daquela célula escreveu uma carta levantando a questão do fato de que depois que a instalação foi esvaziada, eles não a queimaram. Evidentemente, alguns dos outros ativistas da célula não queriam fazer isso. O ponto interessante da carta era que a ação custou $7000, e se a célula estivesse apenas interessada em salvar cães, eles deveriam ter ido a um abrigo de cães, onde eles teriam salvo muito mais vidas com o dinheiro que gastaram.

DJ: O escritor da carta tem um argumento.
DB:
Eu acho que o efeito desse ataque foi mais dramático e de longo prazo do que ir a um abrigo, mas a carta implicitamente levanta a boa questão da distinção entre ação simbólica e não simbólica.
Salvar quarenta e seis cães do abrigo teria sido uma ação puramente não simbólica, em que você não está fazendo um argumento. Escrever cartas ou protestar é puramente simbólico, em que nenhum animal é salvo. Eu acho que a ALF tenta se manter longe de ambos esses pólos. Muitos dos membros da ALF/ELF são motivados a fazerem o que eles fazem em parte porque eles acreditam que muito do movimento ambiental foi reduzido a uma postura simbólica que faz pouco mais do que gastar tempo e energia. Claro, ações simbólicas ganham algum benefício da mídia, levantam alguma conscientização pública, mas elas não nos levam a lugar nenhum em termos de salvar o habitat ou salvar vidas de animais. Nós não estamos vendo um movimento real, um progresso real. Todas as vezes que alguém levanta uma faixa, nós passamos um slogan, e a foto está no jornal ou na tv, mas o que nós realmente conseguimos? Mas não importa qual foi o efeito que teve libertar aqueles cães da Biodevices, a verdade é que aqueles ativistas salvaram as vidas de quarenta e seis cães de uma cirurgia de coração exposto, e a tortura que vem junto com isso.

DJ: No final das contas, no que você espera que as ações da ALF e da ELF conduzam?
DB:
Eu espero que elas conduzam um número maior de pessoas a reconhecerem que não é preciso uma pessoa especial para fazer uma ação, que qualquer um pode fazer uma ação, e que nós temos uma responsabilidade moral e uma obrigação de agir contra a tortura e o abuso, não importando se essa tortura e esse abuso é de humanos, não-humanos, ou do nosso meio ambiente. Nosso planeta está sendo destruído, espécies animais estão sendo destruídas, e nós temos uma responsabilidade de impedir essa matança de qualquer forma que pudermos.
Eu esperaria que após a ouvir sobre a ação em Vail, algumas pessoas parassem e pensassem, “Uau, algumas pessoas se preocuparam tanto com o lince que eles incendiaram cinco estruturas que estavam a milhares de metros montanha acima e escaparam.” Eu esperaria que essas pessoas se inspirassem com isso, e que elas agissem sobre as questões que estão próximas de seus corações. Eu esperaria que essas ações causassem que elas parassem e pensassem sobre suas próprias vidas.
Quantas pessoas ficam enojadas em abatedouros? Se algumas pessoas normais e corriqueiras podem ir a um abatedouro e remover galinhas - dar a essas galinhas vidas - e ao fazerem isso estarem fazendo uma forte declaração de oposição contra esses tipos horrendos de crimes contra a natureza, então qualquer um pode fazer isso.

DJ: Como qualquer um pode fazer isso e ainda se manter seguro? Afinal, nós estamos falando de crimes.
DB:
Primeiro, eu diria que as pessoas deveriam ficar de olho em provocadores. O FBI tem tido há muito tempo o hábito de se infiltrar em movimentos. Isso significa que você deve trabalhar com pessoas que você conhece e confia.
Segundo, existem muitas informações boas por aí sobre segurança, e existem muitas pessoas tentando fazer com que essas informações sejam o mais amplamente conhecidas e entendidas o possível. Um website, chamado “the frontline information site”, tem uma enorme quantidade de informação sobre segurança: como não deixar provas forenses para trás, como se comportar entre seus amigos e co-ativistas em termos do que falar e não falar, e histórias sobre como uma pessoa começou a trabalhar com a ALF.
Muitas dessas informações estão disponíveis para qualquer um que procurar, tanto na web, em livretos distribuídos por grupos de direitos dos animais, em revistas como The Earth First! Journal, ou no No Compromise, no Live Wild or Die, ou Underground.
Provavelmente a informação mais importante é para as pessoas manterem suas bocas fechadas. Muito frequentemente as pessoas são presas não por causa de algum grande trabalho de detetive da polícia, mas por causa de suas bocas, ou as bocas de outras pessoas. Darren e eu fomos uma história diferente, e o Rod Coronado foi uma história muito diferente: muitas pessoas passaram muitos meses na prisão porque eles não cooperaram com os grandes júris que investigaram o Rod.

DJ: Eu quero voltar à questão do que você quer. Na escala maior, visto que a civilização industrial está matando o planeta, e nos matando, eu quero destruí-la, causando o mínimo de dano possível à vida humana e não-humana o possível. A ALF/ELF quer isso?
DB:
Eu não acho que acabar com a civilização é um objetivo explicitamente declarado da ALF ou da ELF, mas eu acho que está implícito nos objetivos que eles declaram. Alguns dos objetivos implícitos incluem: acabar com o agro-negócio; acabar com as indústrias farmacêuticas; acabar com as indústrias de vivissecção; acabar com as indústrias de roupas feitas de animais e de entretenimento com animais; acabar com a exploração de madeira industrial; acabar com o desenvolvimento em massa e a construção de estradas. Isso tudo acaba levando, pelo menos em minha mente, para o objetivo maior de ou acabar com a civilização industrial, ou pelo menos alterar radicalmente o modo que essa sociedade funciona e o modo que as pessoas relacionam-se com seu ambiente e com as outras espécies.

DJ: Como a mudança virá?
DB:
Eu não acho que as ações de grupos clandestinos por eles mesmos possam parar com a vivissecção, as fazendas industriais, e assim por diante. Terão de ser os esforços combinados da ALF e de grupos de direitos dos animais não-clandestinos que fazem protestos, e os homens e mulheres idosas que escrevem cartas, e as pessoas que se envolvem com as comunidades, educação: tudo isso irá se desenvolver em uma mudança radical de consciência. A questão, eu penso, é e sempre foi se essa mudança radical virá logo, antes que seja “tarde demais”.

DJ: Nós já estamos no meio do apocalipse.
DB:
Sim, nós estamos no meio do apocalipse. Dado o rumo atual da civilização, eu sou extremamente pessimista quanto à sobrevivência de nossa espécie, e quanto à sobrevivência de muitas outras espécies. Nada disso me impede de agir, porque eu não poderia viver comigo mesmo - e isso é provavelmente verdade para a maioria dos ativistas - se eu me sentasse e conseguisse um emprego e visse tv, enquanto eu soubesse que algo está acontecendo. Quando você sabe que algo está muito errado com nossa cultura, você não pode deixar de fazer algo, mesmo que você não tenha certeza de que o que você fizer irá fazer alguma diferença. Você TEM que fazer algo.

DJ: Frequentemente após minhas palestras, alguém pergunta, “Se as coisas estão tão desanimadoras, porque você não simplesmente desiste?” A verdade é que nunca me ocorreu desistir.
DB:
Eu não acho que seja fácil para pessoas como nós desistir, porque quando você tem o conhecimento, quando você tem o entendimento, a consciência, você fica preso com o que você sabe. E o que eu sei é isso: o meio ambiente está sendo destruído, o que significa é claro que nós estamos destruindo a nós mesmos. Eu sei que se nós formos sobreviver, nós temos que realmente expandir nossa consciência, nosso círculo de entendimento e consciência, para incluir o meio ambiente, e para incluir o sofrimento de outros, tanto humanos quanto não-humanos. E eu também sei que se nós nos importamos sobre qualquer coisa além de nós mesmos e nosso dinheiro, então nós precisamos começar a fazer algo, seja nos juntarmos à ALF ou à ELF, escrever uma carta, protestar em frente a uma loja de peles, ou impedir que um Wal-Mart entre em sua comunidade. O fato de simplesmente ter nascido biologicamente um humano não te faz automaticamente um ser humano e um membro da sociedade humana. Para se tornar totalmente humano e para ser um membro de qualquer tipo de sociedade humana que gostaríamos de fazer parte, nós temos que nos tornar responsáveis - tomar responsabilidade ativa - pelas ações de nossa espécie e de nós mesmos. Ficar sentado em cima do muro não adianta. Seria o mesmo que você estar morto.

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