sexta-feira, 11 de dezembro de 2009
terça-feira, 8 de dezembro de 2009
ADRIANE GALISTEU NA LUTA CONTRA A AIDS
Madonna faz pelas crianças carentes do Malawi, Adriane Galisteu fará pelo hospital de doenças infecciosas Emílio Ribas, de São Paulo, que tem tratamento-modelo para doentes de Aids. Para arrecadar R$ 500.000,00, ela participou da campanha “A Cara da Vida”. A Iódice Denim criou camisetas, a Nestlé entra com carrinhos de sorvete, a Itapemirim Turismo disponibilizou ônibus e a prefeitura deu autorização para os carrinhos circularem por locais proibidos, como a porta de shopping-centers e dentro do Parque do Ibirapuera. “Quem encontrar um carrinho e quiser doar R$ 49,90 leva uma camiseta e um sorvete”, explica Adriane. Ônibus da Itapemirim serão out-doors ambulantes e pontos de doação. “Dia 1 de dezembro foi o dia mundial de combate à Aids. Foram feitas vários eventos nesta semana. Um jantar no restaurante A Bela Cintra para 50 pessoas, com convites a R$ 1.000,00; a festa de dois anos do Budda Bar, no dia 4 de dezembro, arrecadou fundos para a campanha; no dia 5 passou o dia todo na rua Oscar Freire. junto com Ana Maria Braga, que também apoiou a campanha. A maratona terminou à noite, na boate The Week”.
Madonna tem ligação com o Malawi, país onde adotou os filhos David Banda e Mercy James. Adriane tem sua história pessoal com o Emílio Ribas. Em 1996, quando seu irmão contraiu o vírus HIV, uma das opções era interná-lo no hospital. “As condições eram tão precárias que não tive coragem. Hoje, sob comando do dr. David Uip, o hospital oferece tratamento-modelo. Temos que continuar falando de AIDS e alertando a população jovem de que o risco de contaminação não passou. Hoje em dia, depois do Viagra, temos também alta incidência da doença entre homens hetero na faixa dos 60 anos.”
Muito bom ver (vez ou outra) ícones da televisão e das passarelas optarem por divulgar causas sociais ao invés de promoverem o próprio umbigo. Quem sabe se este não é o início de vida inteligene na televisão...
quarta-feira, 14 de outubro de 2009
HOMOSSEXUAIS: Os novos negros.
No sábado passado, espremido no Maracanã ao lado de meu filho mais velho e outras 57 mil pessoas, fui ver um jogaço, Flamengo 2 x 1 São Paulo, de virada, um espetáculo de futebol. Quando o time do São Paulo entrou em campo, as torcidas organizadas do Flamengo, além de milhares de outros torcedores avulsos, entoaram, a todo pulmão: “Veados, veados, veados!”. Daí, o painel eletrônico passou a anunciar, com a ajuda do sistema de autofalantes, a escalação são-paulina, recebida com as tradicionais vaias da torcida da casa, até aí, nada demais. Mas o Maraca veio abaixo quando o nome do volante Richarlyson foi anunciado: “Bicha, bicha, bicha!”. E, em seguida: “Bicharlyson, bicharlyson!”. Ao longo da partida, bastava que o são-paulino tocasse na bola para receber uma saraivada de insultos semelhantes. No ápice da histeria homofóbica, a Raça Rubro Negra, maior e mais importante torcida do Rio, e uma das maiores do Brasil, convocou o estádio a entoar uma quadrinha supostamente engraçada. Era assim:
Richarlyson virou alvo da homofobia esportiva brasileira, com indisfarçável conivência de cronistas esportivos, jornalistas e colegas de vestiário, a partir de 2005, quando fez uma espécie de “dança da bundinha” ao comemorar um gol do São Paulo, time que por ser oriundo do elitista bairro do Morumbi acabou estigmatizado como reduto homossexual, ou time dos “bambis”, como resumem as torcidas adversárias. A imprensa chegou a anunciar o dia em que Richarlyson iria assumir sua homossexualidade, provavelmente numa entrada ao vivo, no programa Fantástico, da TV Globo – o que, diga-se de passagem, nunca aconteceu. Desde então, no entanto, o volante nunca mais teve paz. No Maracanã lotado, qualquer lance que o envolvesse era, imediatamente, louvado por um coro uníssono e ensurdecedor de “veado, veado, veado!”. Homens, mulheres e crianças. O atacante Dagoberto entrou de gaiato nessa história apenas porque, com Richarlyson, forma uma eficiente dupla de ataque no São Paulo.
Agora, imaginem se, no Morumbi, a torcida do São Paulo saudasse o atacante Adriano, do Flamengo, aos berros de “macaco, macaco, macaco!”, apenas para ficarmos nas analogias retiradas do mundo animal. Ou, simplesmente, entoasse uma quadrinha do tipo criada para a dupla Dagoberto/Richarlyson, dizendo que no Flamengo só tem crioulo, que Adriano enraba, sei lá, o Petkovic. O mundo iria cair, e com razão, porque chegamos a um estágio civilizatório onde o racismo tornou-se motivo de repulsa, mesmo em suas nuances tão brasileiras, escondidas em piadas de salão e ódios de cor mal disfarçados no elevador social. Usa-se, no caso dos gays, o mesmo mecanismo perverso que perdurou na sociedade brasileira escravagista e pós-escravagista com o qual foi possível transformar em insulto uma condição humana que deveria, no fim das contas, ser tão somente aceita e respeitada. Assim, torcedores brasileiros chamam de veados os são-paulinos em campo como, não faz muito tempo, nos chamavam, os argentinos, de “macaquitos”, em pleno Monumental de Nuñes, em Buenos Aires, para revolta da nação.
Quando – e se – a lei que criminaliza a homofobia no Brasil, a exemplo do racismo, for aprovada no Congresso Nacional, será preciso educar gerações inteiras de brasileiros a respeitar a sexualidade alheia. Espero, a tempo de recebermos os atletas que virão às Olimpíadas de 2016, no Rio, provavelmente, no mesmo Maracanã que hoje se compraz em xingar Richarlyson de veado. Por enquanto, a discussão sobre a lei está parada, no Brasil, porque o lobby das bancadas religiosas teme abrir mão de um filão explorado por fanáticos imbuídos da missão de “curar” homossexuais, ou de outros, para quem os gays são uma aberração bíblica passível, portanto, da ira de deus.
Nos jornais de domingo, nem uma mísera linha sobre o assunto. Das duas uma: ou é fato banal e corriqueiro, logo, tornado invisível aos olhos das dezenas de repórteres enfiados na tribuna da imprensa do Maracanã; ou é conivência mesmo.
quinta-feira, 1 de outubro de 2009
Breve homenagem a um bastardo inglorioso...
G.G. não foi Jesus por muito tempo. Pouco tempo antes de entrar na escola, sua mãe mudou o nome do garoto para Kevin Michael Allin. Nesta época, G.G. Allin já apresentava um pouco do comportamento “anormal”, o que fez com que sua mãe trocasse o seu nome. Nessa época. G.G. Allin e sua família passaram por muitos confrontos, muitos vindos da parte do Sr. Merle Allin, pai de G.G. Allin, que se tornara um alcoólatra e tinha alguns problemas mentais. Apesar do pai de G.G. Allin ter esses significantes problemas, ele nunca usou o seu pai como desculpa para suas grotescas atitudes no palco. O Sr. Merle constantemente ameaçava matar toda a sua família, tendo até mesmo cavado as covas de cada membro da família no porão da casa.
Mas foi na época da escola em que G.G. Allin começou a ficar ainda mais “freak” (sendo considerado na época um delinqüente juvenil, e chegando a estudar por um ano em uma classe para crianças “especiais”). Ele fazia de tudo para chocar quem estava por perto, até mesmo chegou a ir vestido de mulher para a escola (o que lhe rendeu um espancamento de seus colegas de escola, que o tacharam de homossexual).
Quando perguntaram a G.G. Allin como fora a sua infância, ele simplesmente disse: “Caótica”. Nesta mesma época, ele descobriu a música, ouvindo muito rock, comprando alguns discos e depois aprendendo a tocar bateria, que seria o seu primeiro instrumento musical. Algum tempo depois, com ele já tocando razoavelmente bateria, ingressou à algumas bandas, algumas, inclusive, junto com o seu irmão, Merle.
Nos anos 70, G.G. Allin descobriu o punk rock e passou a tocar na banda Malpractice, que não durou muito mais do que um ano. Nessa época, ele era ainda bem sociável com qualquer pessoa, e, aparentemente, tinha deixado o seu lado freak de lado por alguns anos. Ainda nessa mesma época, ele se casa com Tracy Deneault, com quem teve uma filha batizada com o nome de Nicoann Deneault. Pouquíssmo tempo depois do casamento entre G.G. Allin e Tracy Deneault, ocorreu o divórcio. G.G. Allin foi morar em um trailler, na cidade de New-Hampshire, onde escreveu boa parte das letras de seu primeiro disco (intitulado como “Eat My Fuc”, ou simplesmente, “EMF”) lançado em 1983.
G.G. Allin apesar de ser conhecido apenas pelo seu nome, tocou em muitas bandas e lançou CD's com diversas delas. Uma das primeiras bandas a dar apoio a ele foram os Scumfucs (com o seu irmão Merle no contra-baixo), e depois os The Jabbers (que mais tarde ficaria G.G. Allin & The Jabbers). Nessa época as apresentações de G.G. Allin ainda não eram tão loucas, mas as letras das músicas já eram recheadas de palavrões e muitas outras coisas (a maioria dos dicos de G.G. Allin vinham com a tarja “Not For Sale To Persons Under 18” ou "Proibida A Venda Para Menores De 18 Anos"). Foi com o The Jabbers, que incluía ex-membros da lendária banda MC5, que G.G. Allin gravou muitas de suas músicas (que, segundo o seu irmão, Merle, até hoje não foram lançadas nem metade delas). G.G. Allin atuou na banda por um bom tempo como baterista e vocalista, e, depois, passou a ser apenas vocalista. Cada vez mais incontrolável no palco e também cada vez mais viciado em drogas e bebida, nessa época ele bebia quase que de hora em hora. O The Jabbers acabou e seus integrantes seguiram caminhos diferentes da música, mas G.G. Allin continuou, e continuava cada vez mais louco e viciado em drogas.
Depois do The Jabbers, G.G. Allin atuou em diversas outras bandas, algumas sem gravar nenhum material em estúdio e outras gravando apenas um álbum. Nessa época, ele já era considerado um terrorista da música e tocou em diversos estados americanos, principalmente com a banda The Texas Nazis (Obs: essa banda não tem nenhuma ligação com nazismo ou fascismo, este nome era uma provocação aos preconceituosos texanos que não gostavam de homossexuais e odiavam G.G. Allin, que chegaram até a espancá-lo em um show com o Texas Nazis). G.G. Allin foi preso diversas vezes (na maioria das vezes, por “Mau Comportamento”, "Ato Obsceno", “Posse de drogas” e “Posse ilegal de Armas”), mas, pelo que parecia, isso apenas servia como “pilha” para ele continuar seus “atentados terroristas”.
No final dos anos 80, G.G. Allin lança “Freaks, Faggots, Drunks and Junkies”, um dos melhores álbuns de sua carreira, e também um dos mais violentos e brutais. Esse CD é considerado pelo próprio G.G. Allin como o disco mais profissional de sua carreira e também como sua “auto-biografia”. Depois de mais lançamentos (quase todos os CDs de G.G. Allin era gravados de forma totalmente independente, sem ter sequer um produtor por perto pra “supervisionar” a gravação) e poucos shows, G.G. Allin fez o que todos já esperavam: se entregou totalmente as bebidas alcoólicas e a heroína, que tornou-se o seu maior vício. Fazendo sempre mais maluquices em seus shows (foi nessa época que se tornou um “hábito” ele defecar no palco, comer seus próprios dejetos e se mutilar no palco), os shows foram ficando cada vez mais escassos. Ninguém queria um cara que comia bosta e enfiava o microfone no ânus tocando em seus bares. Mesmo assim, ainda haviam casas de shows (se é que se pode chamar assim) que procuravam G.G. Allin para shows. Nessa época, seus shows quase nunca passavam da 3ª música, com policiais invadindo os bares e levando G.G. Allin para a prisão; outras vezes, G.G. Allin se mutilava tanto no palco a ponto de desmaiar e não conseguir mais cantar. Ele só parava a sua “saga” quando ia parar no hospital ou era preso (chegou a ficar 1 ano preso).
Depois de ser solto, G.G. Allin agora publicava um “zine” que escreveu durante seu tempo na prisão, chamado de “G.G. Allin Manifesto”, em que ele falava mal das grandes gravadoras e dizia que ele era o “profeta” da revolução musical. Nessa época, G.G. Allin tentou voltar a fazer shows e lançar alguns singles e fitas de seus shows. No entanto, G.G. Allin agora tinha uma nova missão: cometer suicídio em pleno palco. Ele disse isso em diversas entrevistas para a Maximum RocknRoll (revista americana especializada em rock e no underground americano, uma das poucas que ainda davam atenção a ele).
Em 1992, G.G. Allin foi novamente preso e proibido de tocar em diversas cidades. Nessa época foi feito o documentário “Hated: G.G. Allin And The Murder Junkies”, que mostrava os shows caóticos de G.G. Allin e os bastidores. Ele ainda voltou a afirmar que cometeria suicídio no palco. Depois de solto, ele formou o “G.G. Allin and the Criminal Quartet”, com que gravou o disco mais bizarro de sua carreira: “Carnival of Excess” (lançado oficialmente apenas depois de sua morte). Um disco de música country, dedicado a Hank Williams, (cantor americano de música country).
quinta-feira, 17 de setembro de 2009
TRUCULÊNCIA POLICIAL?
Não quero ser redundante, mas para onde vai o (nosso!) dinheiro investido na formação de novos oficiais? Se o encaminhamento da verba for feita por um meio um tanto demagogo da nossa política e se utilizando das palavras de Balestreri ("O uso da força não se confunde com truculência") lançamos aqui uma pequena "cartilha" de bons modos aos nossos gorilas uniformizados que não aprenderam direito a lição de casa:
- O policial militar deve estar apto, adestrado e preparado para enfrentar todas as situações, sem omissões, indisciplina, pânico, corrupção ou excesso;
- A ação policial bem sucedida, sem excessos, projeta a instituição e dignifica os autores da ocorrência;
- A violência policial revolta a vítima e os assistentes, projetando assim uma imagem negativa e falsa da polícia, pelo fato isolado;
- A violência desnecessária gera outras violências que podem desencadear-se, inclusive, com conseqüências maiores e incontroláveis;
- Os excessos cometidos serão punidos, criminais e disciplinarmente;
- A condição de policial não exime de cumprimento da norma legal;
- O policial deve respeitar a pessoa humana, qualquer que seja a sua condição.
- Não basta está rígido, equipado e acompanhado para uma ação eficaz, é preciso estar instruído e preparado para o desempenho das missões, evitando as surpresas e as improvisações, causas freqüentes das falhas e dos excessos;
- A prática da violência, isolada ou em pública, deve ser prontamente coibida, para não servir de exemplo e estímulo a outras ações, em situações semelhantes;
- Os fatos concretos que exigem a ação pronta, enérgica e eficaz do policial militar, sem excessos, devem ser explorados imediatamente como exemplos para a tropa;
- A observância dos princípios de abordagens deve ser feitos em comum acordo com o POP – Procedimento Operacional Padrão, incluindo o planejamento prévio das ações, aliada a execução correta das táticas de observação e de aproximação, supremacia de força, postura e entonação de voz, com atuação imparcial e isenta na condução das operações policiais;
- A utilização da técnica de abordagem com imobilização não deve ser feita de maneira indiscriminada, face ao constrangimento que causa, sendo justificável apenas nas circunstâncias em que houver possibilidade de reação ou resistência a ação policial.
O policial militar ao fazer o uso legítimo da força, deve ter o conhecimento da lei, estar preparado tecnicamente, através da sua formação e treinamento (instrução). Precisa conhecer os limites legais para a execução da sua ação, pois ultrapassando as fronteiras da lei, estará se equiparando ao criminoso. O policial militar não deve deixar de fazer o uso da força, quando necessário e, praticar o excesso, que é a violência arbitrária e, se tornar um infrator da lei.
A fronteira entre a força e a violência é delimitada, no campo formal pela lei, no campo racional pela necessidade técnica e, no campo moral, pelo antagonismo que deve reger a metodologia de policiais e criminosos. O uso legítimo da força caracteriza-se pelos princípios da legalidade, com a observância das normas legais vigentes no estado; pelos princípios da necessidade, se o uso da força foi feito de modo imperioso; pelos princípios da proporcionalidade, se a utilização da força foi na medida para o cumprimento do seu dever e, pelo princípio da ética que dita os parâmetros morais para utilização da força. Fugir destes princípios é praticar o uso indevido da força.
FONTE: Blog Udigrud
quinta-feira, 3 de setembro de 2009
Contra a lógica da submissão: A subversão do existente
O desejo de mudar o mundo continuará meramente um ideal abstrato ou um programa político ao menos que este desejo se torne a vontade de transformar a própria existência individual. A lógica da submissão se impõem na vida diária oferecendo milhares de razões para nos rendermos a dominação da sobrevivência sobre a vida. Portanto, sem um projeto consciente de revolta e transformação neste nível, todas as tentativas de mudar o mundo continuará algo basicamente cosmético - colocar bandaids em feridas de gangrena.
Sem uma projetualidade intencional em direção a liberdade e a revolta aqui e agora, uma gama de projetos potenciais (ocupações de espaços abandonados, o compartilhar de alimento, a publicação de um periódico anarquista, sabotagem, radios piratas, manifestações, ataques contra as instituições de dominação - perdem seu significado, se tornando meramente mais uma grande atividade num mundo cada vez mais confuso e confuso. É a decisão consciente de reapropriar a própria vida em desafio contra a presente realidade que podemos dar a estas atividades um significado revolucionário, porque é isto que fornece a ligação entre as várias atividades, formando uma vida insurgente.
Tomar tal decisão nos desafia em descobrir como realizar isso na prática, e tal realização não é questão de nos envolvermos numa variedade de projetos. Isto também, e mais essencialmente, significa criar a própria vida como uma tensão em direção a liberdade, desta forma fornecendo um contexto para as ações que tomamos uma base apara análise. Mais ainda, nossa decisão leva nossa revolta para além da política. O desejo consciente para a liberdade total requer uma transformação de nós mesmos e de nossas relações no contexto das lutas revolucionárias. Isto não se torna necessariamente se jogar nesse, naquela e noutra atividade, mas pegar e aprender a usar todas aquelas ferramentas que podemos tomar como nossas e usa-las contra a atual ordem baseada na dominação, em particular analise do mundo e de nossa atividade nele, relações de afinidade e um espirito indomável. Também se torna necessário reconhecer e resolutadamente recusar aquelas ferramentas de mudança social oferecidas pela ordem dominante. O que apenas reafirmaria a lógica da dominação e submissão (delegar, negociar, petições, evangelismo, a criação de imagens midiáticas de nós mesmos e por ai vai).
Estas ferramentas reafirmam exatamente a hierarquia, a separação, e a dependência destas estruturas de poder - o que é a razão do porque delas serem oferecidas para usarmos em nossas lutas. Quando alguem recorre a estas ferramentas, a revolta e a liberdade são reduzidas a mero programa politico.
Analises que não surgem do desejo individual de reapropriar a própria vida aqui e agora tendem a reforçar a dominação, porque permanece sem base ou se transforma num programa político ou ideológico. Muito do que se passa por análise social hoje em dia, cai no reino do político e ideológico. Não tendo base para que façam suas críticas, aqueles que seguem este caminho, tendem a cair num incessante circulo de desconstrução que ultimamente conclui que a dominação está em todo lugar, a todo momento, que a liberdade é impossivel, e que portanto, deveriamos fazer o nosso melhor seja através da confomidade ou através de jogos teatrais de grupos de oposição como por exemplo os Tutti Bianche ("Macacões Brancos" em português. Grupo anti capitalista italiano de ação direta que simula confrontos contra a policia. N do T) cuja intenção é desafiar nada.
Discutivelmente, esta não é uma analise total, mas uma desculpa para evitar analises reais, com uma revolta concreta.
Porém a estrada da ideologia e do programa político não é mais util ao projeto de subversão. Porque este projeto é a transformação da existência num modo que destrói toda a dominação e exploração, e isto é inerentemente anti-político. A liberdade, concebida politicamente, é tanto um slogan vazio direcionado a ganhar a aprovação dos governados ( a "liberdade" americana pela qual bush esta lutando bombardeando o afeganistão e o iraque e aprovando leis cada vez mais repressivas em contrapartida) quanto o objetivo de continuar a dominação.
Liberdade e dominação se tornam quantitativos - uma questão de medida - e o primeiro é aumentado pela diminuição do último. É precisamente este tipo de pensamento que fez com que Kropotkin apoiasse os aliados na Primeira Guerra Mundial e que fornece a base para cada projeto reformista. Mas se liberdade não é meramente questão de estágios de dominação - se grandes jaulas e correntes não significam grande liberdade, meramente a possibilidade de maior mobilidade dentro de um contexto de servidão contínua aos dominantes desta ordem - Portanto todos os programas políticos e ideologias se tornam inuteis ao nosso projeto. Ao invés disso é precisamente para nós mesmos e para os nossos desejos que devemos nos direcionar - nosso desejo por uma existência qualitativamente diferente.
E o ponto de partida para as trasformações que procuramos vem a ser a nossas vidas e nossas relações. É aqui que começamos a minar a lógica da submissão com o objetivo de destruir toda dominação.
Desta forma, nossas análises do mundo são com objetivos de conseguir um entendimento de como levar adiante nossa própria luta no mundo e encontrar pontos de solidariedade ( quando enxergamos nossas lutas nas dos outros) para espalhar a luta contra a dominação, sem criar uma interpretação do mundo em termos de alguma ideologia. E nossas análises de nossas atividades são direcionadas em determinar o quão util elas são para alcançar aspirações, sem conformar nossas ações em nenhum programa. Se nosso objetivo é a transformação da existência, o desenvolvimento de relações de afinidades não é apenas uma tática de manobra. É a tentativa de desenvolver relações de liberdade dentro de um contexto de luta. Relacionamentos de liberdade desenvolvidos através de um profundo e sempre crescente conhecimento do outro - um conhecimento de suas idéias, aspirações, desejos, capacidades e inclinações. É sim um conhecimento das similaridades, porém, mais significativamente, é um conhecimento das diferenças, porque é no ponto da diferença que o conhecimento prático real começa, o conhecimento de como levar adiante projetos e criar vida com outros. É por esta razão que entre nós mesmos - assim como em nosso relacionamento o qual estamos lutando - é necessário evitar a prática da negociação e da constante busca de um acordo geral. Estas práticas são, apesar de tudo, o coração e a alma da forma democrática de dominação que atualmente governa o mundo, e portanto são expressões da lógica da submissão que precisamos erradicar de nossas relações.
Falsas uniões são de longe um grande obstáculo ao desenvolvimento de um projeto insurrecional do que os conflitos reais dos quais a inteligência individual e a imaginação criativa deva florescer brilhantemente.
As concessões das quais as falsas uniões desenvolvem são em si mesmas um sinal de submissão do projeto insurrecional ao projeto político.
Uniões conduzidas através de concessões são de fato a exata oposição da afinidade devido espalharem a supressao do conhecimento do próprio individuo e dos outros.Isto é o porque que se precisa de processos formais de tomada de decisão, que carregam as sementes da metodologia burocrática.
Onde existe um real conhecimento entre aqueles que estão levando adiante um projeto, o consenso formal não é necessário.
A consciência de cada individualidade cria uma base onde decisão e ação não precisam ser separadas. Esta é uma nova forma de sociabilidade que pode ser levada aqui e agora na luta contra a ordem dominante.
Uma forma de sociabilidade baseado num total gozo da singularidade de cada individuo, da maravilhosa diferença que cada um de nós carregamos em nós mesmos.
Na base dessas relações de afinidade, projetos reais que refletem o desejo e objetivos dos indivíduos envolvidos podem se desenvolver. No lugar de simplesmente um sentimento de que deve ser feito algo.
Seja um projeto de ocupação (squat), seja um projeto para compartilhar alimento, um ato de sabotagem, uma radio pirata, uma publicação, uma manifestação, ou um ataque contra uma das instituições de dominação, não será iniciado como uma obrigação política, mas como parte da vida de alguém que está empenhado em criar, como um florescer de uma existência individual auto determinada. E isto é então, e apenas então, que seu potencial subversivo e insurrecional floresce. Se o divertimento e a admiração, e uma maravilhosa e indomável existência é o que queremos, precisamos tentar alcançar isto aqui e agora, em desafio rebelde contra toda dominação, erradicando a lógica da submissão de nossas vidas, de nossos relacionamentos e de nossas lutas revolucionárias - pela destruição da política e pela criação da vida sem medidas.
Por Wolfi Landstreicher
sábado, 18 de julho de 2009
segunda-feira, 22 de junho de 2009
L7 - MULHERES NO COMANDO TOTAL.
O começoA idéia de formar o L7 surgiu em 1985 quando Suzi Gardner conheceu Donita Sparks em Los Angeles. Na verdade, nenhuma das duas era de Los Angeles, Suzi morava em Sacramento enquanto que Donita era de Chicago. Em 1986, depois de muito ensaio, a idéia da banda ficou mais séria quando Jennifer Finch (que morava em San Francisco e tocava no Sugar Baby Doll, com Courtney Love, do Hole e Kat Bjelland, das Babes in Toyland) se tornou a baixista do recém formado L7. A partir daí a banda passa a fazer vários concertos em clubes da cidade, com Suzi e Donita nos vocais e guitarras, Jennifer no baixo e o baterista Roy Koutsky completando a formação.
O primeiro álbum: L7 - O primeiro álbum, auto-intitulado L7, é lançado em 1988 e conta com a produção de Brett Guretwitz (Bad Religion) e então dono do selo Epitaph Records (gravadora que gerenciava também artistas como The Offspring e Agnostic Front), que também já produziu bandas como Rancid, Pennywise e o álbum tributo a Alice Cooper.
No mesmo ano, Demetra (Dee) Plakas entra na bateria da banda no lugar que era de Roy e o L7 se torna uma banda totalmente formada por mulheres. A partir daí e durante os dois anos seguintes, elas se dedicam a fazer pequenos concertos em bares de Hollywood, significando mais um passo para a banda.
Gravam, ainda em 1988, participação com a canção "Shove" na compilação Grunge Years: Sub Pop Compilation, que também contou com a participação de Nirvana, Mudhoney e Babes in Toyland.
Smell The Magic - Em 1991 é lançado o segundo álbum, Smell the Magic, pela gravadora Sub Pop Records (que gerenciava também artistas como Nirvana, Mudhoney e Soundgarden), e a banda inicia a turnê com o Nirvana, que chama a atenção da gravadora Slash Records, com a qual assina contrato para o próximo trabalho.
Ainda em 1991 as integrantes do L7 criam a fundação Rock for Choice, para defesa das liberdades civis e dos direitos da mulher, como a legalização do aborto. O festival Rock for Choice contou com concertos beneficentes de bandas de peso e amigos pessoais do L7 como Pearl Jam, Joan Jett, Hole e Red Hot Chili Peppers. A banda também organizou o álbum Spirit of'73: Rock for Choice, que foi um trabalho gravado ao vivo no qual bandas femininas dos anos 1990 fizeram covers de bandas femininas da década de 1970. O L7 aparece nesse trabalho com Joan Jett na faixa "Cherry Bomb". Atualmente a banda se concentra em outros projetos e não toma mais conta da fundação.
Bricks are Heavy - Com a nova gravadora, lançam em 1992, o terceiro álbum, Bricks are Heavy, contando com a produção de Butch Vig, que anteriormente, em 1991, trabalhou com o Nirvana no álbum Nevermind e com o Sonic Youth no álbum Dirty. Esse álbum abriu inúmeras portas para a banda e trouxe o respeito por parte dos fãs de vários países. No mesmo ano, a banda é convidada para abrir os concertos da turnê européia do Faith no More. A repercussão do novo álbum foi extraordinária, vendendo centenas de milhares de cópias no mundo todo, puxado principalmente pelo sucesso de "Pretend We're Dead" ("Finja que Estamos Mortos"), a canção mais pop do disco e até hoje a mais conhecida do L7.
O restante de 1992 e 1993 foi ocupado com duas extensas turnês nos Estados Unidos, outras duas na Europa, concertos no Japão e Austrália, apresentações ao vivo em programas como o de David Letterman nos Estados Unidos, e concertos em grandes festivais, como o de Reading na Inglaterra e o Hollywood Rock no Rio de Janeiro e em São Paulo.
A banda também participa com a canção "Let's Lynch the Landlord" no álbum Virus 100: Dead Kennedy Covers, que inclui, entre outras, bandas como o próprio Faith no More, Napalm Death e o Sepultura. Fazem também uma aparição em Flashback de Joan Jett, que passa de influência e ídolo a amiga e apoiadora da banda.
Hungry for Stink - Em 1994 o L7 participa do famoso festival Lollapalooza, pouco antes de lançar seu próximo álbum. A faixa "Shitlist" entra na trilha sonora do filme Natural Born Killers (Assassinos por Natureza) e "Hangin' On The Telephone", cover da banda Blondie entra na trilha de The Jerky Boys.
O quarto álbum da banda, Hungry for Stink, é lançado em 1994 e co-produzido por Garth Richardson, que já trabalhou com WASP, Alice Cooper e Mötley Crue. Esse disco traz uma homenagem da banda para Shirley Muldowney, que criou muita polêmica nas corridas de carros por ser uma piloto mulher. Ainda em 1994 o L7 participa da trilha sonora do filme de John Waters, Serial Mom, com a canção "Gas Chamber".
The Beauty Process: Triple Platinum - Em 1995, a faixa "Shove" aparece na trilha do filme Tank Girl, da qual participam também Hole, Joan Jett e Bjork, entre outros. No ano seguinte Jennifer Finch deixa a banda e em 1997 o L7 lança o quinto álbum. The Beauty Process: Triple Platinum, pela gravadora Warner Brothers, contou com Joe Barresi (também trabalhou com Sick of it All) como produtor. Algumas faixas foram gravadas por uma baixista convidada, Greta Brinkman. Ainda no mesmo ano, gravam participação em outra trilha sonora, agora para o filme I Know What You Did Last Summer (Eu Sei o Que Vocês Fizeram no Verão Passado), com a faixa "This Ain't The Summer Of Love".
Live: Omaha to Osaka - Em 1998 a baixista Gail Greenwood, que havia saído da banda Belly formada em 1992 em Boston, entra para a banda na vaga deixada por Jennifer e o L7 lança um álbum chamado Live: Omaha to Osaka, que trazia 16 músicas tocadas ao vivo de pequenos concertos em clubes de uma mini turnê que fizeram desde Omaha até Osaka, Japão. O detalhe é que esse trabalho conta com a participação de uma banda marcial (tradicional no Japão) de garotas, interpretando músicas do L7.
Slap-Happy - Já em 1999 o L7 realiza outro projeto, a gravadora Wax Tadpole Records. Sendo um plano antigo da banda, elas explicam que assim teriam mais controle sobre seu processo criativo e os resultados. Parceira do selo Bong Load, a banda estréia lançando o sétimo álbum, Slap-Happy, pelo selo Bong Load e o documentário "The Beauty Process" dirigido pelo baixista do extinto Nirvana, Krist Novoselic. No mesmo ano a revista Rolling Stone elege Bricks are Heavy como um dos cem álbuns indispensáveis dos anos 1990. A baixista Gail Greenwood sai e é substituída por Janis Tanaka, que já havia tocado nas bandas Stone Fox e Auntie Christ.
Durante a turnê européia e estadunidense para divulgação do último álbum a banda promove uma espécie de rifa no qual o ganhador poderia passar uma noite com a baterista Dee Plakas. As imprensas estadunidense e inglesa reagiram com várias matérias contra.
De volta aos Estados Unidos, Suzi Gardner é "homenageada" com uma réplica de seus seios feita pela famosa groupie Cynthia Plaster Caster, na qual foi inspirada a canção "Plaster Caster" do Kiss, que tem réplicas dos pênis de Jimi Hendrix, entre outros.
Discografia
The Best Of: The Slash Years (2000)
domingo, 21 de junho de 2009
DOWNLOAD - NA BEIRA DO NADA # 02
domingo, 31 de maio de 2009
NOSSA POBREZA SEXUAL
Existem vários fatores que influem no empobrecimento sexual que experimentamos nesta sociedade. Se examinarmos suas origens, as instituições do matrimônio, a família e a imposição de algumas estruturas sociais patriarcais são importantes, e o papel que jogou não pode ser ignorado. Mas durante as últimas décadas, pelo menos aqui no chamado Ocidente, a força destas instituições diminuiu consideravelmente. No entanto o empobrecimento sexual não o fez. Talvez tudo ao contrário. Voltou-se mais intenso e o sentimos de uma forma mais desesperada.
O mesmo processo que permitiu a debilidade e a desintegração gradual da família é que agora sustenta o empobrecimento sexual: o processo de "coisificação". A "coisificação" da sexualidade é evidentemente tão antiga como a prostituição (e quase tão velha como a civilização), mas nas últimas cinco décadas, a publicidade e os meios de comunicação coisificaram a concepção de sexualidade. A publicidade nos oferece um atrativo sexual que influencia nas massas, vinculando a paixão espontânea com desodorantes, sabonetes, perfumes e carros. Através dos filmes e da TV nos mostram imagens sobre a facilidade com a qual alguém pode conseguir gente bonita em sua cama. Evidentemente, é necessário que seja belíssimo e atrativo, e para consegui-lo nos servem desodorantes, perfumes, academia, dietas e produtos para o cabelo. Estamos adestrados para desejar imagens de "beleza" de plástico que são inalcançáveis porque em grande parte são fictícias. Está criação de desejos artificiais e inalcançáveis serve perfeitamente às necessidades do Capital, já que garantem uma continua sensação de insatisfação que pode ser utilizada para manter as pessoas comprando, numa tentativa desesperada de aliviar seus anseios.
A coisificação da sexualidade conduziu um tipo de "liberação" dentro do esquema das relações de mercado. Não somente porque é muito freqüente ver relações sexuais entre pessoas solteiras no cinema, mais porque cada vez mais as relações de homossexualidade, bissexualidade e inclusive algumas outras raras estão ganhando certo nível de aceitação entre a população. Evidentemente, de maneira que sejam úteis as necessidades de mercado. De fato, estas práticas são transformadas em identidades nas quais alguns se ajustam de forma mais ou menos estrita. Desta maneira, se converte em muito mais que uma simples prática de um determinado ato sexual. Assim "estilos de vida" completos estão associados a eles, implicando conformismo, lugares específicos para ir, produtos específicos para se comprar. Neste sentido, os gays, as lésbicas, os bissexuais, o couro e as subculturas desenvolvem suas funções como objetivos de mercado à margem da família tradicional e do contexto geral.
De fato, a coisificação da sexualidade permite que todas as formas de práticas sexuais sejam produtos de venda. No mercado sexual, todo o mundo vende a si mesmo ao mais alto posto enquanto tenta comprar aqueles que lhe atraem ao menor preço. Assim, se cria o absurdo jogo de jogar duro para conseguir ou tentar pressionar a outros para manter relações sexuais. E assim se dá a possessividade, que tão frequentemente é desenvolvida nas atuais relações de "amor". Depois de tudo, no regime do mercado, não é possuidor aquele que comprou?
Neste contexto, o ato sexual tende a tomar-se na mesma medida; uma forma quantificável em consonância com esta coisificação. Dentro de uma sociedade capitalista não deveria surpreender que a "liberação" da franqueza sexual signifique predominantemente uma discursão sobre o mecanismo do sexo. O jogo do ato sexual se reduz não somente ao prazer físico, mas mais especificamente ao orgasmo, e o discurso sexual se centra sobre os mecanismos mais efetivos para ganhar este orgasmo. Não quero ser mal interpretada. Um orgasmo eufórico é algo maravilhoso. Mas centrar o encontro sexual em conseguir um orgasmo, não nos permite sentir o jogo de nos perder no outro, aqui e agora. Mas que ser uma imersão de um no outro, o sexo centrado em alcançar o orgasmo se converte em uma tarefa que aspira a um objetivo futuro, a manipulação de certos organismos para ganhar um fim. Tal e como eu o vejo, isto transforma o sexo em uma atividade basicamente masturbatória - duas pessoas usando uma a outra para conseguir seu fim desejado, trocando (desde de o ponto de vista estritamente econômico) prazer sem dar nada de si mesmo. Nestas ações deliberadas, não existe lugar para a espontaneidade, a paixão sem medida, a entrega nas mãos de outro.
Este é o contexto social da sexualidade em nossas vidas atuais. Dentro deste contexto existem muitos outros fatores que reforçam o empobrecimento da sexualidade. O capitalismo necessita de movimentos de liberação parcial de todos os tipos, tanto pra a recuperação da revolta como para introduzir a embrutecida lei do mercado em cada vez mais aspectos de nossa vida. Por isso o capitalismo necessita do feminismo, dos movimentos de liberação racial e nacional, da liberação dos gays e também evidentemente da liberação sexual.
Mas o capitalismo não faz uso de forma imediata de todos os velhos métodos de dominação e exploração, e não faz porque são sistemas lentos e complicados. As lutas de liberação parcial mantêm sua função recuperadora precisamente para continuar exercendo a velha opressão como contrapartida para prevenir, que aqueles envolvidos em lutas de liberação, possam perceber a escassez de sua "liberação" dentro da ordem social atual. De tal maneira se o puritanismo e a opressão sexual tivessem sido realmente erradicados dentro do capitalismo, a escassez dos sex-shops mais feministas, conscientes e amigos dos gays seria óbvia.
E assim o puritanismo continua existindo e não só como um vestígio de tempos anteriores, caídos da moda. Isto se manifesta claramente em métodos óbvios, tais como a opressão ainda vigente do matrimônio, (ou pelo menos criar uma identidade como casal) e ter uma família. Mas também se faz manifesto de forma que a maioria das pessoas não percebe, porque nunca consideraram outras possibilidades. A adolescência é a época em que os impulsos sexuais são mais fortes devido às mudanças que se produzem no corpo. Em uma sociedade sã, os adolescentes deveriam ter a oportunidade de explorar seus desejos sem medo ou censura, deveriam fazê-lo de uma forma aberta e aconselhada, se quiserem, pelos adultos. Enquanto que os desejos intensos dos adolescentes são claramente reconhecidos (quantas vezes filmes de humor ou programas de TV se baseiam na intensidade destes desejos e na impossibilidade de explorar-los de uma forma livre e aberta) nesta sociedade, não se criam métodos para que esses desejos possam explorar-se livremente, esta sociedade os censura, fazendo uma chamada à abstinência, deixando os adolescentes ignorando seus desejos, limitando-os a masturbação ou aceitando frequentemente ter sexo rápido em situações de muita pressão e ambientes nada confortáveis para evitar assim que lhes peguem. É difícil não estranhar que algum tipo de sexualidade sã houve se desenvolvido sob estas condições.
Porque o único tipo de "liberação" sexual de utilidade para o Capital é aquela que permite preservar a pobreza sexual, e utilizará todo tipo de ferramentas para a manutenção da repressão sexual sob o engano de uma liberação fictícia. Desde que as velhas justificações religiosas para a repressão sexual deixaram de ser válidas para amplas porções da população, um medo físico pelo sexo atua agora como catalisador na criação de um novo meio para a repressão. Este medo é promovido principalmente por duas frentes. Em primeiro lugar é o meio do "depredador sexual". Ataque sexual a jovens, olhar violador e a violação são fatos muito reais. Mas os meios de comunicação exageram a realidade com explicações sensacionalistas e especulações. O manejo destes assuntos por parte das autoridades e os meios de comunicação não têm como objetivo encarregar-se destes problemas, mas seguir promovendo o medo. Na realidade, os casos de violência sexual contra mulheres e crianças (e me refiro especificamente àqueles atos de violência baseados no fato de que as vítimas sejam crianças ou mulheres) são a maioria das vezes, mais freqüentes que os atos de violência sexual. Mas o sexo tem um forte valor social que concede aos atos de violência sexual uma imagem muito sinistra. E o medo promovido pelos meios de comunicação em relação aos ditos atos reforça uma atitude social generalizada, de que o sexo é perigoso e deve ser reprimido ou pelo menos publicamente controlado.
Em segundo lugar, esta o medo às doenças sexualmente transmissíveis e em particular a AIDS. De fato, a princípios dos anos 80 o medo das doenças sexualmente transmissíveis deixou de ser em grande medida um método útil para manter as pessoas afastadas do sexo. A maioria destas doenças podia ser tratada com relativa facilidade, e as pessoas mais inteligentes se deram conta da inutilidade de utilizar preservativos na prevenção da propagação de doenças como gonorréia, sífilis e muitas outras doenças. Nesse momento se descobriu a AIDS. Havia muito que dizer sobre a AIDS, muitas perguntas teriam que ser respondidas, uma grande quantidade de negócios suspeitos (no sentido literal do termo) referentes a este fenômeno, mas a respeito do tema que estamos tratando, de novo o medo ao contágio de doenças sexualmente transmissíveis se dedica para promover a abstinência sexual, ou pelo menos que a sexualidade seja menos espontânea, menos desordenada, e gera assim encontros sexuais mais estéreis.
Em meio a tal ambiente de deformação sexual, outros fatos desenvolvem o que parece ser inevitável. Uma tendência a agarrar-nos desesperadamente àqueles com quem temos conectado, ainda que seja uma conexão empobrecida. O medo de estar sozinha, sem amor, nos conduz a nos unir com amantes quando há muito já deixamos de amá-los. Inclusive quando o sexo continua existindo na relação, provavelmente seja mecânico e ritual, e não um momento absoluto de entrega ao outro.
E claro, são aqueles que simplesmente sentem que não podem controlar completamente esta tristeza, este meio desamparado de relações artificiais e conduzido pelo medo, e por isso nunca o tentarão. Não é uma falta de desejo que impõe sua "abstinência", senão o desânimo para se vender assim mesma e uma desesperança ante a possibilidade de encontros sexuais reais. Frequentemente estes indivíduos que, no passado, se situaram na linha de busca de encontros eróticos apaixonados, intensos e foram recusados como artigos de inferior quantia. Foram apostados, os outros compraram e venderam. E perderam a esperança de manter a aposta.
Em qualquer caso, vivemos em uma sociedade que empobrece todo tipo de contato, os sexuais também. A liberação sexual - no sentido real, que é nossa liberação para explorar a plenitude, do abandono erótico carnal no outro - nunca o poderá realizar-se por completo dentro desta sociedade, porque esta sociedade necessita do empobrecimento, dos encontros sexuais coisificados, tanto como necessita que todas as interações sejam coisificadas, medidas, calculadas. Assim que os encontros sexuais livres, como cada encontro livre, só pode existir contra esta sociedade. Mas isto não é um motivo de desesperação (a desesperação depois de tudo, não é mais que o outro lado da esperança), mas sim deve conduzir-nos a uma exploração subversiva. O reino do amor é muito amplo, e existem infinitos caminhos a explorar. A tendência entre os anarquistas (pelo menos nos EUA) de reduzir as questões de liberação sexual ao mecanismo de ditas relações (monogamia, não-monogamia, poliamor, "promiscuidade", etc) deve ir mais além. Na expressão sexual livre têm cabimento tudo isto e muito mais. De fato, a riqueza sexual não tem nada haver com ambos os mecanismos (tanto as relações como os orgasmos) ou com a quantidade (o capitalismo tem provado há muito tempo que seus choros cada vez mais efetivos ainda cheiram a lixo). E sim consiste no reconhecimento de que a satisfação sexual não é exclusivamente uma questão de prazer como tal, senão concretamente de prazer que brota do encontro real e o reconhecimento, a união dos desejos e dos corpos, e a harmonia, o prazer e o êxtase que se obtém dele.
Assim, fica claro que necessitamos perseguir uns encontros sexuais como os que procuramos pra o resto de nossas relações, em total oposição a esta sociedade, não pode ser um dever revolucionário, senão porque é a única maneira possível de ter relações sexuais plenas, ricas e desinibidas na qual o amor deixe de ser uma desesperada dependência mútua e em seu lugar se transforma na exploração extensiva do desconhecido.
Willful Disobedience - Volume 4 (n° 3-4, Fall-Winter 2000)
domingo, 10 de maio de 2009
OS YIPPIES E A POLITIZAÇÃO DO PSICODELISMO
Em seu livro Rock, o Grito e o Mito, Roberto Muggiati afirma o seguinte sobre o importante congresso de antipsiquiatria realizado em Londres, no ano de 1967: “No verão de 1967, 0 rock é um dos assuntos estudados em Londres no congresso Dialética da Libertação, organizado pelo psicanalista existencial R. O. Laing e seus colegas da ‘antipsiquiatria’, num esforço para conciliar libertação social e libertação psíquica. São grupos da Nova Esquerda, psicanalistas e sociólogos que debatem, procurando dar forma a uma esquerda visionária e fundir a política radical com a política do êxtase”. Outro acontecimento que dá mostras desta “politização radical do psicodelismo”, na segunda metade da década de 60, são os distúrbios que envolveram a Convenção do Partido Democrático realizada em Chicago, em agosto de 1968. O episódio se converteu numa das maiores demonstrações do potencial de violência e repressão que o Sistema era capaz de mobilizar contra o protesto organizado de negros, estudantes e hippies (ou yippies). O que se viu foram três dias de intensas manifestações e violentos choques com uma polícia disposta a fazer um uso essencialmente político de sua força, revelando a existência de um verdadeiro plano com o objetivo de assustar e intimidar os manifestantes e tendo como resultado um enorme saldo de mortos e feridos.
Mas não foi apenas nos Estados Unidos que o ano de 1968 significou um momento de confrontação radical com o Sistema. Também na Europa, este foi um ano decisivo para o movimento estudantil — uma das grandes manifestações do ativismo da juventude rebelde dos anos 60. Quem não se lembra do Maio de 68 francês, com suas barricadas e seus slogans de um radicalismo que em nada se parecia com o das manifestações políticas tradicionais? “Sejam realistas: peçam o impossível”, “O sonho é realidade”, “Temos uma esquerda pré-histórica”, “O álcool mata, tomem LSD”, “Sou marxista, tendência Groucho”, “É proibido proibir” e tantos outros. Do mesmo modo, as universidades alemãs demonstraram durante toda a década, uma incrível efervescência. Nomes como Daniel Cohn-Bendit, na França, ou Rudi Dutschke, na Alemanha, se tornavam internacionalmente conhecidos.
Enquanto isso, nos Estados Unidos, especialmente Berkeley, Califórnia, e Colúmbia, Nova York, já haviam se convertido em pólos internacionais da luta dos estudantes. A primeira grande revolta estudantil ocorrida em Berkeley, em 1964, teve como um de seus resultados a criação do Free Speech Movement. No ano de 1966, novos e violentos distúrbios viriam a ocorrer na Califórnia — o nome de Mário Sávio se tornava definitivamente conhecido. Em 1968, seria a vez da grande revolta ria universidade de Colúmbia, com forte presença do movimento negro.
Tanto nos Estados Unidos quanto na Europa Ocidental, o que chamava a atenção nesta onda de revolta estudantil que marcou a década de 60 era a sua originalidade em termos da abertura de novos espaços de luta política e da elaboração de uma nova linguagem crítica. Fiel à ideologia da rebelião da juventude internacional, o ponto focal da crítica e do protesto destas fileiras do movimento estudantil era a própria universidade enquanto instituição. Suas bandeiras de luta, longe de estarem referidas apenas às questões mais gerais do conjunto da sociedade, falavam da sala de aula e das relações mais diretas vividas no espaço específico das instituições de ensino. Quando se questionava a repressão, por exemplo, a ênfase era posta naquela exercida no interior da escola e que se manifestava tanto no dia-a-dia das relações entre as pessoas ali envolvidas, no desempenho de seus papéis, quanto no discurso que sé produzia e reproduzia dentro daquelas instituições. E no bojo deste processo que vão surgir as universidades livres ou as antiuniversidades, com seus currículos radicalmente transformados e sua organização montada em bases muito diferentes das do ensino tradicional, dentro do espírito mais geral da criação de anti ou contra- instituições, que tanto marcava aqueles anos de intenso vigor da contracultura.
Este novo caminho trilhado pelo movimento estudantil internacional era, em boa medida, o resultado do encontro de todas aquelas forças emergentes que a rebelião da juventude havia posto em cena. De um lado, hippies, yippies, negros e uma infinidade de minorias etnoculturais que se organizavam e, de outro, um novo pensamento de esquerda que tentava se ajustar às transformações e à complexidade das sociedades industriais. Era a Nova Esquerda, que vinha se organizando desde o começo dos anos 60. Um de seus frutos no interior do movimento estudantil foi a SDS (Students for a Democratic Society), a maior organização estudantil dos Estados Unidos, com forte presença em vários países europeus, fundada por volta de 1962. Por sua vez, este discurso crítico que o movimento estudantil internacional elaborou ao longo dos anos 60 visava não apenas as contradições da sociedade capitalista, mas também aquelas de uma sociedade industrial, tecnocrática, nas suas manifestações mais simples e corriqueiras. Nas palavras de um manifesto afixado à entrada principal da Sorbonne durante o Maio de 68: “a revolução que está começando questionará não só a sociedade capitalista como também a sociedade industrial. A sociedade de consumo tem de morrer de morte violenta. A sociedade da alienação tem de desaparecer da história. Estamos inventando um mundo novo e original. A imaginação está tomando o poder”.
Em 1971, foi organizado um enorme congresso em Berkeley, Califórnia, do qual participaram, ao lado de sociólogos e outros cientistas, os principais líderes das comunidades hippies, jovens radicais de organizações estudantis, representantes de minorias como o Gay Power, Women’s Lib, Black Panther e assim por diante. O que se procurava realizar era uma espécie de balanço de toda aquela intrincada movimentação dos anos 60, bem como a avaliação das possíveis saídas a curto e médio prazo, O resultado foi a publicação de uma “declaração de princípios” na qual, em determinado trecho, se afirmava o seguinte: “A nova sociedade, a Sociedade Alternativa, deve emergir do velho Sistema, como um cogumelo novo brota de um tronco apodrecido. Acabou-se a era do protesto subterrâneo e das demonstrações existenciais. Acabou-se o mito de que os artistas têm que estar à margem de sua época. Devemos de agora em diante investir toda a nossa energia na construção de novas condições. O que for possível utilizar da velha sociedade, nós utilizaremos sem escrúpulos: meios de comunicação, dinheiro, estratégia, know-how e as poucas e boas idéias liberais”.
Por Carlos Alberto M. Pereira.
sábado, 9 de maio de 2009
INTEGRALISMO, UMA AMEAÇA À NOSSA LIBERDADE
sexta-feira, 8 de maio de 2009
45% DOS BRASILEIROS DIZEM QUE NÃO GOSTAM DE LER.
Lucas Ferraz escreve para a “Folha de SP”:
O Sul é a região onde mais se lê (média de 5,5 livros por pessoa), à frente do Sudeste (4,9 livros), Centro-Oeste (4,5 livros), Nordeste (4,2 livros) e Norte (3,9 livros). Em 2001, na primeira edição da pesquisa, a média de leitura da população era de 1,8 livro por ano, mas as metodologias utilizadas são diferentes.
As professoras aposentadas Manoelina de Barros, 75, e Maria Helena Tosoni, 68, gostam de se encontrar em livrarias para comprar livros. Elas afirmam que só têm essa disponibilidade porque são aposentadas, e lamentam que a maioria dos professores leia pouco. Sobre o motivo, Tosoni é categórica: "Se o salário fosse maior, leríamos mais".
A metroviária Telma Piccirillo, 45, diz que nunca obrigou seus filhos Victor, 10, e Taynã, 15, a ler, mas sempre cultivou o hábito: "Quando não sabiam ler, eu lia para eles". Ela acredita que lê mais que seus colegas: "Eles são meio preguiçosos".