quarta-feira, 14 de outubro de 2009

HOMOSSEXUAIS: Os novos negros.

Não faz muito tempo, o mundo – e o Brasil, em particular –, se escandalizou com as manifestações racistas contra jogadores de futebol que foram hostilizados por torcedores nos estádios europeus apenas porque eram negros. Na Itália e na Espanha, diversos jogadores negros, inclusive brasileiros, foram chamados de “macacos”, “gorilas” e “pretos de merda” por torcidas organizadas dos maiores times daqueles países. As reações foram, felizmente, imediatas. Intelectuais, jornalistas, políticos e autoridades esportivas de todo o planeta botaram a boca no trombone e reduziram, como era de se esperar, gente assim ao nível de delinqüentes comuns. Ainda há, eventualmente, exaltações racistas nos gramados, mas há um consenso razoavelmente arraigado sobre esse tipo de atitude, tornada, universalmente, inaceitável. Você não irá ver, por exemplo, no Maracanã, torcidas inteiras – homens, mulheres e crianças – gritando “crioulo safado” para o artilheiro Adriano, do Flamengo, por conta de alguma mancada do Imperador. Com a PM circulando, nem racistas emperdenidos se arriscam a tanto.

Mas, ai de Adriano, se ele fosse gay.

No sábado passado, espremido no Maracanã ao lado de meu filho mais velho e outras 57 mil pessoas, fui ver um jogaço, Flamengo 2 x 1 São Paulo, de virada, um espetáculo de futebol. Quando o time do São Paulo entrou em campo, as torcidas organizadas do Flamengo, além de milhares de outros torcedores avulsos, entoaram, a todo pulmão: “Veados, veados, veados!”. Daí, o painel eletrônico passou a anunciar, com a ajuda do sistema de autofalantes, a escalação são-paulina, recebida com as tradicionais vaias da torcida da casa, até aí, nada demais. Mas o Maraca veio abaixo quando o nome do volante Richarlyson foi anunciado: “Bicha, bicha, bicha!”. E, em seguida: “Bicharlyson, bicharlyson!”. Ao longo da partida, bastava que o são-paulino tocasse na bola para receber uma saraivada de insultos semelhantes. No ápice da histeria homofóbica, a Raça Rubro Negra, maior e mais importante torcida do Rio, e uma das maiores do Brasil, convocou o estádio a entoar uma quadrinha supostamente engraçada. Era assim:

“O time do São Paulo/só tem veado/o Dagoberto/come o Richarlyson”.

Richarlyson virou alvo da homofobia esportiva brasileira, com indisfarçável conivência de cronistas esportivos, jornalistas e colegas de vestiário, a partir de 2005, quando fez uma espécie de “dança da bundinha” ao comemorar um gol do São Paulo, time que por ser oriundo do elitista bairro do Morumbi acabou estigmatizado como reduto homossexual, ou time dos “bambis”, como resumem as torcidas adversárias. A imprensa chegou a anunciar o dia em que Richarlyson iria assumir sua homossexualidade, provavelmente numa entrada ao vivo, no programa Fantástico, da TV Globo – o que, diga-se de passagem, nunca aconteceu. Desde então, no entanto, o volante nunca mais teve paz. No Maracanã lotado, qualquer lance que o envolvesse era, imediatamente, louvado por um coro uníssono e ensurdecedor de “veado, veado, veado!”. Homens, mulheres e crianças. O atacante Dagoberto entrou de gaiato nessa história apenas porque, com Richarlyson, forma uma eficiente dupla de ataque no São Paulo.

Agora, imaginem se, no Morumbi, a torcida do São Paulo saudasse o atacante Adriano, do Flamengo, aos berros de “macaco, macaco, macaco!”, apenas para ficarmos nas analogias retiradas do mundo animal. Ou, simplesmente, entoasse uma quadrinha do tipo criada para a dupla Dagoberto/Richarlyson, dizendo que no Flamengo só tem crioulo, que Adriano enraba, sei lá, o Petkovic. O mundo iria cair, e com razão, porque chegamos a um estágio civilizatório onde o racismo tornou-se motivo de repulsa, mesmo em suas nuances tão brasileiras, escondidas em piadas de salão e ódios de cor mal disfarçados no elevador social. Usa-se, no caso dos gays, o mesmo mecanismo perverso que perdurou na sociedade brasileira escravagista e pós-escravagista com o qual foi possível transformar em insulto uma condição humana que deveria, no fim das contas, ser tão somente aceita e respeitada. Assim, torcedores brasileiros chamam de veados os são-paulinos em campo como, não faz muito tempo, nos chamavam, os argentinos, de “macaquitos”, em pleno Monumental de Nuñes, em Buenos Aires, para revolta da nação.

Quando – e se – a lei que criminaliza a homofobia no Brasil, a exemplo do racismo, for aprovada no Congresso Nacional, será preciso educar gerações inteiras de brasileiros a respeitar a sexualidade alheia. Espero, a tempo de recebermos os atletas que virão às Olimpíadas de 2016, no Rio, provavelmente, no mesmo Maracanã que hoje se compraz em xingar Richarlyson de veado. Por enquanto, a discussão sobre a lei está parada, no Brasil, porque o lobby das bancadas religiosas teme abrir mão de um filão explorado por fanáticos imbuídos da missão de “curar” homossexuais, ou de outros, para quem os gays são uma aberração bíblica passível, portanto, da ira de deus.

Nos jornais de domingo, nem uma mísera linha sobre o assunto. Das duas uma: ou é fato banal e corriqueiro, logo, tornado invisível aos olhos das dezenas de repórteres enfiados na tribuna da imprensa do Maracanã; ou é conivência mesmo.


quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Breve homenagem a um bastardo inglorioso...

G.G. Allin nasceu no dia 29 de Agosto de 1956, em Lancaster, New Hampshire, nos EUA, com o nome de Jesus Christ Allin, nome dado por seus religiosos pais. A famosa alcunha de “G.G. Allin” veio de seu irmão, e, mais tarde, companheiro de banda, Merle Allin, que, por não conseguir pronunciar o seu nome corretamente, o chamava de “Jee-Jee Allin” (G.G. Allin).

G.G. não foi Jesus por muito tempo. Pouco tempo antes de entrar na escola, sua mãe mudou o nome do garoto para Kevin Michael Allin. Nesta época, G.G. Allin já apresentava um pouco do comportamento “anormal”, o que fez com que sua mãe trocasse o seu nome. Nessa época. G.G. Allin e sua família passaram por muitos confrontos, muitos vindos da parte do Sr. Merle Allin, pai de G.G. Allin, que se tornara um alcoólatra e tinha alguns problemas mentais. Apesar do pai de G.G. Allin ter esses significantes problemas, ele nunca usou o seu pai como desculpa para suas grotescas atitudes no palco. O Sr. Merle constantemente ameaçava matar toda a sua família, tendo até mesmo cavado as covas de cada membro da família no porão da casa.

Mas foi na época da escola em que G.G. Allin começou a ficar ainda mais “freak” (sendo considerado na época um delinqüente juvenil, e chegando a estudar por um ano em uma classe para crianças “especiais”). Ele fazia de tudo para chocar quem estava por perto, até mesmo chegou a ir vestido de mulher para a escola (o que lhe rendeu um espancamento de seus colegas de escola, que o tacharam de homossexual).

Quando perguntaram a G.G. Allin como fora a sua infância, ele simplesmente disse: “Caótica”. Nesta mesma época, ele descobriu a música, ouvindo muito rock, comprando alguns discos e depois aprendendo a tocar bateria, que seria o seu primeiro instrumento musical. Algum tempo depois, com ele já tocando razoavelmente bateria, ingressou à algumas bandas, algumas, inclusive, junto com o seu irmão, Merle.

Anos 70

Nos anos 70, G.G. Allin descobriu o punk rock e passou a tocar na banda Malpractice, que não durou muito mais do que um ano. Nessa época, ele era ainda bem sociável com qualquer pessoa, e, aparentemente, tinha deixado o seu lado freak de lado por alguns anos. Ainda nessa mesma época, ele se casa com Tracy Deneault, com quem teve uma filha batizada com o nome de Nicoann Deneault. Pouquíssmo tempo depois do casamento entre G.G. Allin e Tracy Deneault, ocorreu o divórcio. G.G. Allin foi morar em um trailler, na cidade de New-Hampshire, onde escreveu boa parte das letras de seu primeiro disco (intitulado como “Eat My Fuc”, ou simplesmente, “EMF”) lançado em 1983.


G.G. Allin apesar de ser conhecido apenas pelo seu nome, tocou em muitas bandas e lançou CD's com diversas delas. Uma das primeiras bandas a dar apoio a ele foram os Scumfucs (com o seu irmão Merle no contra-baixo), e depois os The Jabbers (que mais tarde ficaria G.G. Allin & The Jabbers). Nessa época as apresentações de G.G. Allin ainda não eram tão loucas, mas as letras das músicas já eram recheadas de palavrões e muitas outras coisas (a maioria dos dicos de G.G. Allin vinham com a tarja “Not For Sale To Persons Under 18” ou "Proibida A Venda Para Menores De 18 Anos"). Foi com o The Jabbers, que incluía ex-membros da lendária banda MC5, que G.G. Allin gravou muitas de suas músicas (que, segundo o seu irmão, Merle, até hoje não foram lançadas nem metade delas). G.G. Allin atuou na banda por um bom tempo como baterista e vocalista, e, depois, passou a ser apenas vocalista. Cada vez mais incontrolável no palco e também cada vez mais viciado em drogas e bebida, nessa época ele bebia quase que de hora em hora. O The Jabbers acabou e seus integrantes seguiram caminhos diferentes da música, mas G.G. Allin continuou, e continuava cada vez mais louco e viciado em drogas.

Depois do The Jabbers, G.G. Allin atuou em diversas outras bandas, algumas sem gravar nenhum material em estúdio e outras gravando apenas um álbum. Nessa época, ele já era considerado um terrorista da música e tocou em diversos estados americanos, principalmente com a banda The Texas Nazis (Obs: essa banda não tem nenhuma ligação com nazismo ou fascismo, este nome era uma provocação aos preconceituosos texanos que não gostavam de homossexuais e odiavam G.G. Allin, que chegaram até a espancá-lo em um show com o Texas Nazis). G.G. Allin foi preso diversas vezes (na maioria das vezes, por “Mau Comportamento”, "Ato Obsceno", “Posse de drogas” e “Posse ilegal de Armas”), mas, pelo que parecia, isso apenas servia como “pilha” para ele continuar seus “atentados terroristas”.

Anos 80

No final dos anos 80, G.G. Allin lança “Freaks, Faggots, Drunks and Junkies”, um dos melhores álbuns de sua carreira, e também um dos mais violentos e brutais. Esse CD é considerado pelo próprio G.G. Allin como o disco mais profissional de sua carreira e também como sua “auto-biografia”. Depois de mais lançamentos (quase todos os CDs de G.G. Allin era gravados de forma totalmente independente, sem ter sequer um produtor por perto pra “supervisionar” a gravação) e poucos shows, G.G. Allin fez o que todos já esperavam: se entregou totalmente as bebidas alcoólicas e a heroína, que tornou-se o seu maior vício. Fazendo sempre mais maluquices em seus shows (foi nessa época que se tornou um “hábito” ele defecar no palco, comer seus próprios dejetos e se mutilar no palco), os shows foram ficando cada vez mais escassos. Ninguém queria um cara que comia bosta e enfiava o microfone no ânus tocando em seus bares. Mesmo assim, ainda haviam casas de shows (se é que se pode chamar assim) que procuravam G.G. Allin para shows. Nessa época, seus shows quase nunca passavam da 3ª música, com policiais invadindo os bares e levando G.G. Allin para a prisão; outras vezes, G.G. Allin se mutilava tanto no palco a ponto de desmaiar e não conseguir mais cantar. Ele só parava a sua “saga” quando ia parar no hospital ou era preso (chegou a ficar 1 ano preso).

Depois de ser solto, G.G. Allin agora publicava um “zine” que escreveu durante seu tempo na prisão, chamado de “G.G. Allin Manifesto”, em que ele falava mal das grandes gravadoras e dizia que ele era o “profeta” da revolução musical. Nessa época, G.G. Allin tentou voltar a fazer shows e lançar alguns singles e fitas de seus shows. No entanto, G.G. Allin agora tinha uma nova missão: cometer suicídio em pleno palco. Ele disse isso em diversas entrevistas para a Maximum RocknRoll (revista americana especializada em rock e no underground americano, uma das poucas que ainda davam atenção a ele).


Anos 90
Em 1991, G.G. Allin formou uma de suas melhores (se não a melhor) bandas, o “Murder Junkies”, com seu irmão Merle no baixo. Com os Murder Junkies, G.G. Allin juntou a gangue perfeita (a maioria dos vídeos de G.G. Allin encontrados pela internet são com os Murder Junkies) que o acompanhou até a morte. A banda toda fazia de tudo no palco, era a loucura musical, nem mesmo Dee Dee Ramone agüentou as doideras de G.G. Allin com os Murder Junkies, tocando em apenas um show (como guitarrista). Diz os boatos que Dee Dee Ramone entrou para a banda em um dia e deixou a banda no dia seguinte.

Em 1992, G.G. Allin foi novamente preso e proibido de tocar em diversas cidades. Nessa época foi feito o documentário “Hated: G.G. Allin And The Murder Junkies”, que mostrava os shows caóticos de G.G. Allin e os bastidores. Ele ainda voltou a afirmar que cometeria suicídio no palco. Depois de solto, ele formou o “G.G. Allin and the Criminal Quartet”, com que gravou o disco mais bizarro de sua carreira: “Carnival of Excess” (lançado oficialmente apenas depois de sua morte). Um disco de música country, dedicado a Hank Williams, (cantor americano de música country).

Morte
No dia 28 de junho de 1993, aconteceu o que muitos já esperavam, e o que também muitos queriam: G.G. Allin morre de overdose de heroína no apartamento de um amigo, em Manhattan. Ele tinha apenas 36 anos. O último show de G.G. Allin (feito no mesmo dia de sua morte) é mostrado na versão em DVD do documentário “Hated”, e que foi exibido no dia de seu velório). Velório que foi, na verdade, um circo, com G.G. Allin semi-nu no caixão, com uma garrafa de whisky na mão, a palavra “Fuck Me” escrita em um boné que o mesmo vestia, e diversos (quase todos) seus discos junto com ele no caixão (ele sempre quis ser enterrado com seus discos), com os fãs tirando fotos com o “ídolo” morto e outros que davam beijos em G.G. Allin e brincavam com o seu pênis diminuto.


Bandas em que GG Allin atuou: * The Jabbers * The Cedar Street Sluts * The Scumfucs * Bulge * Antiseen * The Murder Junkies * The Criminal Quartet * The AIDS Brigade * The Disappointments * The Holymen * The Fuckin Shitbiscuits * The Texas Nazis * The Toilet Rockers * The Sewer Scum * The NYC Sheiks * The Drug Whores * Afterbirth * The Southern Baptists * Shrinkwrap * The Primates * The Swankfucks * His Illegitimate Kids * Bloody Mess & The Skabs * The New York Superscum * David Peel (músico) Discografia - Como "GG Allin" * Dirty Love Songs (New Rose, 1987) (double LP) * Hated in the Nation (ROIR, 1987 (cassette); 1998 (CD) * Freaks, Faggots, Drunks and Junkies (Homestead Records, 1988; Awareness, 1991; Aware One, 1997) * Anti-Social Personality Disorder - Live (Ever Rat, 1990; Red Light, 1993) * Doctrine of Mayhem (Black and Blue, 1990) * Bleedin', Stinkin' and Drinkin' (Vinyl Retentive (cassette), 1991) * Suicide Sessions (Awareness (cassette), 1991) * Insult & Injury Volume 2 - The Bloody Years (Black and Blue, 1993) * The Troubled Troubador (Mountain, 1996; Aware One, 2000) * Anti-Social Personality Disorder - Live!/The Best Of The Suicide Sessions (Aware One, 1997) * Insult & Injury Volume 3 - 5-26-82 Providence, RI and More (Black and Blue, 1997) * Insult & Injury Volume 4 - Live At The Rocket 2-15-87 Providence, RI (Black and Blue, 1997) * Singles Collection (Volume One) (Temperance/TPOS, 1998) * The Singles Collection 1977-1991 - Expose Yourself (Aware One, 2004) Com o "The Jabbers" * Always Was, Is and Always Shall Be (Orange, 1980; Halcyon [CD], 2003) * Banned in Boston (Black and Blue, 1989 (CD only) & 1993) Com o "The Scumfucs" * Eat My Fuc (Blood, 1983; Black and Blue, 1987) * GG Allin and The Scumfucs/Artless (Holy War/Starving Missile, 1985) Com o "Texas Nazis" * Boozin' and Pranks (Blood, 1983; Black and Blue, 1987) Com o "Holy Men" * You Give Love a Bad Name (Homestead Records, 1987; Awareness, 1991) Com o "Antiseen" * Murder Junkies (New Rose, 1991; TKO, 2003) * Murder Junkies/Rough, Raw & Live (Baloney Shrapnel, 1993) Com o "The Murder Junkies" * GG Allin and The Murder Junkies (Performance/Awareness, 1993; Aware One, 1997) * Brutality and Bloodshed for All (Alive/Bomp! Records, 1993) * Terror In America (Alive, 1995) Com o "Shrinkwrap" * War Inside My Head/I'm Your Enemy (Awareness, 1993; Aware One, 1997) Com o "The Criminal Quartet" * Carnival of Excess (Vinyl Retentive, 1995) * Carnival of Excess: The Limited Edition (Rockside Media, 2002).