sexta-feira, 11 de dezembro de 2009
terça-feira, 8 de dezembro de 2009
ADRIANE GALISTEU NA LUTA CONTRA A AIDS
Madonna faz pelas crianças carentes do Malawi, Adriane Galisteu fará pelo hospital de doenças infecciosas Emílio Ribas, de São Paulo, que tem tratamento-modelo para doentes de Aids. Para arrecadar R$ 500.000,00, ela participou da campanha “A Cara da Vida”. A Iódice Denim criou camisetas, a Nestlé entra com carrinhos de sorvete, a Itapemirim Turismo disponibilizou ônibus e a prefeitura deu autorização para os carrinhos circularem por locais proibidos, como a porta de shopping-centers e dentro do Parque do Ibirapuera. “Quem encontrar um carrinho e quiser doar R$ 49,90 leva uma camiseta e um sorvete”, explica Adriane. Ônibus da Itapemirim serão out-doors ambulantes e pontos de doação. “Dia 1 de dezembro foi o dia mundial de combate à Aids. Foram feitas vários eventos nesta semana. Um jantar no restaurante A Bela Cintra para 50 pessoas, com convites a R$ 1.000,00; a festa de dois anos do Budda Bar, no dia 4 de dezembro, arrecadou fundos para a campanha; no dia 5 passou o dia todo na rua Oscar Freire. junto com Ana Maria Braga, que também apoiou a campanha. A maratona terminou à noite, na boate The Week”.
Madonna tem ligação com o Malawi, país onde adotou os filhos David Banda e Mercy James. Adriane tem sua história pessoal com o Emílio Ribas. Em 1996, quando seu irmão contraiu o vírus HIV, uma das opções era interná-lo no hospital. “As condições eram tão precárias que não tive coragem. Hoje, sob comando do dr. David Uip, o hospital oferece tratamento-modelo. Temos que continuar falando de AIDS e alertando a população jovem de que o risco de contaminação não passou. Hoje em dia, depois do Viagra, temos também alta incidência da doença entre homens hetero na faixa dos 60 anos.”
Muito bom ver (vez ou outra) ícones da televisão e das passarelas optarem por divulgar causas sociais ao invés de promoverem o próprio umbigo. Quem sabe se este não é o início de vida inteligene na televisão...
quarta-feira, 14 de outubro de 2009
HOMOSSEXUAIS: Os novos negros.
No sábado passado, espremido no Maracanã ao lado de meu filho mais velho e outras 57 mil pessoas, fui ver um jogaço, Flamengo 2 x 1 São Paulo, de virada, um espetáculo de futebol. Quando o time do São Paulo entrou em campo, as torcidas organizadas do Flamengo, além de milhares de outros torcedores avulsos, entoaram, a todo pulmão: “Veados, veados, veados!”. Daí, o painel eletrônico passou a anunciar, com a ajuda do sistema de autofalantes, a escalação são-paulina, recebida com as tradicionais vaias da torcida da casa, até aí, nada demais. Mas o Maraca veio abaixo quando o nome do volante Richarlyson foi anunciado: “Bicha, bicha, bicha!”. E, em seguida: “Bicharlyson, bicharlyson!”. Ao longo da partida, bastava que o são-paulino tocasse na bola para receber uma saraivada de insultos semelhantes. No ápice da histeria homofóbica, a Raça Rubro Negra, maior e mais importante torcida do Rio, e uma das maiores do Brasil, convocou o estádio a entoar uma quadrinha supostamente engraçada. Era assim:
Richarlyson virou alvo da homofobia esportiva brasileira, com indisfarçável conivência de cronistas esportivos, jornalistas e colegas de vestiário, a partir de 2005, quando fez uma espécie de “dança da bundinha” ao comemorar um gol do São Paulo, time que por ser oriundo do elitista bairro do Morumbi acabou estigmatizado como reduto homossexual, ou time dos “bambis”, como resumem as torcidas adversárias. A imprensa chegou a anunciar o dia em que Richarlyson iria assumir sua homossexualidade, provavelmente numa entrada ao vivo, no programa Fantástico, da TV Globo – o que, diga-se de passagem, nunca aconteceu. Desde então, no entanto, o volante nunca mais teve paz. No Maracanã lotado, qualquer lance que o envolvesse era, imediatamente, louvado por um coro uníssono e ensurdecedor de “veado, veado, veado!”. Homens, mulheres e crianças. O atacante Dagoberto entrou de gaiato nessa história apenas porque, com Richarlyson, forma uma eficiente dupla de ataque no São Paulo.
Agora, imaginem se, no Morumbi, a torcida do São Paulo saudasse o atacante Adriano, do Flamengo, aos berros de “macaco, macaco, macaco!”, apenas para ficarmos nas analogias retiradas do mundo animal. Ou, simplesmente, entoasse uma quadrinha do tipo criada para a dupla Dagoberto/Richarlyson, dizendo que no Flamengo só tem crioulo, que Adriano enraba, sei lá, o Petkovic. O mundo iria cair, e com razão, porque chegamos a um estágio civilizatório onde o racismo tornou-se motivo de repulsa, mesmo em suas nuances tão brasileiras, escondidas em piadas de salão e ódios de cor mal disfarçados no elevador social. Usa-se, no caso dos gays, o mesmo mecanismo perverso que perdurou na sociedade brasileira escravagista e pós-escravagista com o qual foi possível transformar em insulto uma condição humana que deveria, no fim das contas, ser tão somente aceita e respeitada. Assim, torcedores brasileiros chamam de veados os são-paulinos em campo como, não faz muito tempo, nos chamavam, os argentinos, de “macaquitos”, em pleno Monumental de Nuñes, em Buenos Aires, para revolta da nação.
Quando – e se – a lei que criminaliza a homofobia no Brasil, a exemplo do racismo, for aprovada no Congresso Nacional, será preciso educar gerações inteiras de brasileiros a respeitar a sexualidade alheia. Espero, a tempo de recebermos os atletas que virão às Olimpíadas de 2016, no Rio, provavelmente, no mesmo Maracanã que hoje se compraz em xingar Richarlyson de veado. Por enquanto, a discussão sobre a lei está parada, no Brasil, porque o lobby das bancadas religiosas teme abrir mão de um filão explorado por fanáticos imbuídos da missão de “curar” homossexuais, ou de outros, para quem os gays são uma aberração bíblica passível, portanto, da ira de deus.
Nos jornais de domingo, nem uma mísera linha sobre o assunto. Das duas uma: ou é fato banal e corriqueiro, logo, tornado invisível aos olhos das dezenas de repórteres enfiados na tribuna da imprensa do Maracanã; ou é conivência mesmo.
quinta-feira, 1 de outubro de 2009
Breve homenagem a um bastardo inglorioso...
G.G. não foi Jesus por muito tempo. Pouco tempo antes de entrar na escola, sua mãe mudou o nome do garoto para Kevin Michael Allin. Nesta época, G.G. Allin já apresentava um pouco do comportamento “anormal”, o que fez com que sua mãe trocasse o seu nome. Nessa época. G.G. Allin e sua família passaram por muitos confrontos, muitos vindos da parte do Sr. Merle Allin, pai de G.G. Allin, que se tornara um alcoólatra e tinha alguns problemas mentais. Apesar do pai de G.G. Allin ter esses significantes problemas, ele nunca usou o seu pai como desculpa para suas grotescas atitudes no palco. O Sr. Merle constantemente ameaçava matar toda a sua família, tendo até mesmo cavado as covas de cada membro da família no porão da casa.
Mas foi na época da escola em que G.G. Allin começou a ficar ainda mais “freak” (sendo considerado na época um delinqüente juvenil, e chegando a estudar por um ano em uma classe para crianças “especiais”). Ele fazia de tudo para chocar quem estava por perto, até mesmo chegou a ir vestido de mulher para a escola (o que lhe rendeu um espancamento de seus colegas de escola, que o tacharam de homossexual).
Quando perguntaram a G.G. Allin como fora a sua infância, ele simplesmente disse: “Caótica”. Nesta mesma época, ele descobriu a música, ouvindo muito rock, comprando alguns discos e depois aprendendo a tocar bateria, que seria o seu primeiro instrumento musical. Algum tempo depois, com ele já tocando razoavelmente bateria, ingressou à algumas bandas, algumas, inclusive, junto com o seu irmão, Merle.
Nos anos 70, G.G. Allin descobriu o punk rock e passou a tocar na banda Malpractice, que não durou muito mais do que um ano. Nessa época, ele era ainda bem sociável com qualquer pessoa, e, aparentemente, tinha deixado o seu lado freak de lado por alguns anos. Ainda nessa mesma época, ele se casa com Tracy Deneault, com quem teve uma filha batizada com o nome de Nicoann Deneault. Pouquíssmo tempo depois do casamento entre G.G. Allin e Tracy Deneault, ocorreu o divórcio. G.G. Allin foi morar em um trailler, na cidade de New-Hampshire, onde escreveu boa parte das letras de seu primeiro disco (intitulado como “Eat My Fuc”, ou simplesmente, “EMF”) lançado em 1983.
G.G. Allin apesar de ser conhecido apenas pelo seu nome, tocou em muitas bandas e lançou CD's com diversas delas. Uma das primeiras bandas a dar apoio a ele foram os Scumfucs (com o seu irmão Merle no contra-baixo), e depois os The Jabbers (que mais tarde ficaria G.G. Allin & The Jabbers). Nessa época as apresentações de G.G. Allin ainda não eram tão loucas, mas as letras das músicas já eram recheadas de palavrões e muitas outras coisas (a maioria dos dicos de G.G. Allin vinham com a tarja “Not For Sale To Persons Under 18” ou "Proibida A Venda Para Menores De 18 Anos"). Foi com o The Jabbers, que incluía ex-membros da lendária banda MC5, que G.G. Allin gravou muitas de suas músicas (que, segundo o seu irmão, Merle, até hoje não foram lançadas nem metade delas). G.G. Allin atuou na banda por um bom tempo como baterista e vocalista, e, depois, passou a ser apenas vocalista. Cada vez mais incontrolável no palco e também cada vez mais viciado em drogas e bebida, nessa época ele bebia quase que de hora em hora. O The Jabbers acabou e seus integrantes seguiram caminhos diferentes da música, mas G.G. Allin continuou, e continuava cada vez mais louco e viciado em drogas.
Depois do The Jabbers, G.G. Allin atuou em diversas outras bandas, algumas sem gravar nenhum material em estúdio e outras gravando apenas um álbum. Nessa época, ele já era considerado um terrorista da música e tocou em diversos estados americanos, principalmente com a banda The Texas Nazis (Obs: essa banda não tem nenhuma ligação com nazismo ou fascismo, este nome era uma provocação aos preconceituosos texanos que não gostavam de homossexuais e odiavam G.G. Allin, que chegaram até a espancá-lo em um show com o Texas Nazis). G.G. Allin foi preso diversas vezes (na maioria das vezes, por “Mau Comportamento”, "Ato Obsceno", “Posse de drogas” e “Posse ilegal de Armas”), mas, pelo que parecia, isso apenas servia como “pilha” para ele continuar seus “atentados terroristas”.
No final dos anos 80, G.G. Allin lança “Freaks, Faggots, Drunks and Junkies”, um dos melhores álbuns de sua carreira, e também um dos mais violentos e brutais. Esse CD é considerado pelo próprio G.G. Allin como o disco mais profissional de sua carreira e também como sua “auto-biografia”. Depois de mais lançamentos (quase todos os CDs de G.G. Allin era gravados de forma totalmente independente, sem ter sequer um produtor por perto pra “supervisionar” a gravação) e poucos shows, G.G. Allin fez o que todos já esperavam: se entregou totalmente as bebidas alcoólicas e a heroína, que tornou-se o seu maior vício. Fazendo sempre mais maluquices em seus shows (foi nessa época que se tornou um “hábito” ele defecar no palco, comer seus próprios dejetos e se mutilar no palco), os shows foram ficando cada vez mais escassos. Ninguém queria um cara que comia bosta e enfiava o microfone no ânus tocando em seus bares. Mesmo assim, ainda haviam casas de shows (se é que se pode chamar assim) que procuravam G.G. Allin para shows. Nessa época, seus shows quase nunca passavam da 3ª música, com policiais invadindo os bares e levando G.G. Allin para a prisão; outras vezes, G.G. Allin se mutilava tanto no palco a ponto de desmaiar e não conseguir mais cantar. Ele só parava a sua “saga” quando ia parar no hospital ou era preso (chegou a ficar 1 ano preso).
Depois de ser solto, G.G. Allin agora publicava um “zine” que escreveu durante seu tempo na prisão, chamado de “G.G. Allin Manifesto”, em que ele falava mal das grandes gravadoras e dizia que ele era o “profeta” da revolução musical. Nessa época, G.G. Allin tentou voltar a fazer shows e lançar alguns singles e fitas de seus shows. No entanto, G.G. Allin agora tinha uma nova missão: cometer suicídio em pleno palco. Ele disse isso em diversas entrevistas para a Maximum RocknRoll (revista americana especializada em rock e no underground americano, uma das poucas que ainda davam atenção a ele).
Em 1992, G.G. Allin foi novamente preso e proibido de tocar em diversas cidades. Nessa época foi feito o documentário “Hated: G.G. Allin And The Murder Junkies”, que mostrava os shows caóticos de G.G. Allin e os bastidores. Ele ainda voltou a afirmar que cometeria suicídio no palco. Depois de solto, ele formou o “G.G. Allin and the Criminal Quartet”, com que gravou o disco mais bizarro de sua carreira: “Carnival of Excess” (lançado oficialmente apenas depois de sua morte). Um disco de música country, dedicado a Hank Williams, (cantor americano de música country).
quinta-feira, 17 de setembro de 2009
TRUCULÊNCIA POLICIAL?
Não quero ser redundante, mas para onde vai o (nosso!) dinheiro investido na formação de novos oficiais? Se o encaminhamento da verba for feita por um meio um tanto demagogo da nossa política e se utilizando das palavras de Balestreri ("O uso da força não se confunde com truculência") lançamos aqui uma pequena "cartilha" de bons modos aos nossos gorilas uniformizados que não aprenderam direito a lição de casa:
- O policial militar deve estar apto, adestrado e preparado para enfrentar todas as situações, sem omissões, indisciplina, pânico, corrupção ou excesso;
- A ação policial bem sucedida, sem excessos, projeta a instituição e dignifica os autores da ocorrência;
- A violência policial revolta a vítima e os assistentes, projetando assim uma imagem negativa e falsa da polícia, pelo fato isolado;
- A violência desnecessária gera outras violências que podem desencadear-se, inclusive, com conseqüências maiores e incontroláveis;
- Os excessos cometidos serão punidos, criminais e disciplinarmente;
- A condição de policial não exime de cumprimento da norma legal;
- O policial deve respeitar a pessoa humana, qualquer que seja a sua condição.
- Não basta está rígido, equipado e acompanhado para uma ação eficaz, é preciso estar instruído e preparado para o desempenho das missões, evitando as surpresas e as improvisações, causas freqüentes das falhas e dos excessos;
- A prática da violência, isolada ou em pública, deve ser prontamente coibida, para não servir de exemplo e estímulo a outras ações, em situações semelhantes;
- Os fatos concretos que exigem a ação pronta, enérgica e eficaz do policial militar, sem excessos, devem ser explorados imediatamente como exemplos para a tropa;
- A observância dos princípios de abordagens deve ser feitos em comum acordo com o POP – Procedimento Operacional Padrão, incluindo o planejamento prévio das ações, aliada a execução correta das táticas de observação e de aproximação, supremacia de força, postura e entonação de voz, com atuação imparcial e isenta na condução das operações policiais;
- A utilização da técnica de abordagem com imobilização não deve ser feita de maneira indiscriminada, face ao constrangimento que causa, sendo justificável apenas nas circunstâncias em que houver possibilidade de reação ou resistência a ação policial.
O policial militar ao fazer o uso legítimo da força, deve ter o conhecimento da lei, estar preparado tecnicamente, através da sua formação e treinamento (instrução). Precisa conhecer os limites legais para a execução da sua ação, pois ultrapassando as fronteiras da lei, estará se equiparando ao criminoso. O policial militar não deve deixar de fazer o uso da força, quando necessário e, praticar o excesso, que é a violência arbitrária e, se tornar um infrator da lei.
A fronteira entre a força e a violência é delimitada, no campo formal pela lei, no campo racional pela necessidade técnica e, no campo moral, pelo antagonismo que deve reger a metodologia de policiais e criminosos. O uso legítimo da força caracteriza-se pelos princípios da legalidade, com a observância das normas legais vigentes no estado; pelos princípios da necessidade, se o uso da força foi feito de modo imperioso; pelos princípios da proporcionalidade, se a utilização da força foi na medida para o cumprimento do seu dever e, pelo princípio da ética que dita os parâmetros morais para utilização da força. Fugir destes princípios é praticar o uso indevido da força.
FONTE: Blog Udigrud
quinta-feira, 3 de setembro de 2009
Contra a lógica da submissão: A subversão do existente
O desejo de mudar o mundo continuará meramente um ideal abstrato ou um programa político ao menos que este desejo se torne a vontade de transformar a própria existência individual. A lógica da submissão se impõem na vida diária oferecendo milhares de razões para nos rendermos a dominação da sobrevivência sobre a vida. Portanto, sem um projeto consciente de revolta e transformação neste nível, todas as tentativas de mudar o mundo continuará algo basicamente cosmético - colocar bandaids em feridas de gangrena.
Sem uma projetualidade intencional em direção a liberdade e a revolta aqui e agora, uma gama de projetos potenciais (ocupações de espaços abandonados, o compartilhar de alimento, a publicação de um periódico anarquista, sabotagem, radios piratas, manifestações, ataques contra as instituições de dominação - perdem seu significado, se tornando meramente mais uma grande atividade num mundo cada vez mais confuso e confuso. É a decisão consciente de reapropriar a própria vida em desafio contra a presente realidade que podemos dar a estas atividades um significado revolucionário, porque é isto que fornece a ligação entre as várias atividades, formando uma vida insurgente.
Tomar tal decisão nos desafia em descobrir como realizar isso na prática, e tal realização não é questão de nos envolvermos numa variedade de projetos. Isto também, e mais essencialmente, significa criar a própria vida como uma tensão em direção a liberdade, desta forma fornecendo um contexto para as ações que tomamos uma base apara análise. Mais ainda, nossa decisão leva nossa revolta para além da política. O desejo consciente para a liberdade total requer uma transformação de nós mesmos e de nossas relações no contexto das lutas revolucionárias. Isto não se torna necessariamente se jogar nesse, naquela e noutra atividade, mas pegar e aprender a usar todas aquelas ferramentas que podemos tomar como nossas e usa-las contra a atual ordem baseada na dominação, em particular analise do mundo e de nossa atividade nele, relações de afinidade e um espirito indomável. Também se torna necessário reconhecer e resolutadamente recusar aquelas ferramentas de mudança social oferecidas pela ordem dominante. O que apenas reafirmaria a lógica da dominação e submissão (delegar, negociar, petições, evangelismo, a criação de imagens midiáticas de nós mesmos e por ai vai).
Estas ferramentas reafirmam exatamente a hierarquia, a separação, e a dependência destas estruturas de poder - o que é a razão do porque delas serem oferecidas para usarmos em nossas lutas. Quando alguem recorre a estas ferramentas, a revolta e a liberdade são reduzidas a mero programa politico.
Analises que não surgem do desejo individual de reapropriar a própria vida aqui e agora tendem a reforçar a dominação, porque permanece sem base ou se transforma num programa político ou ideológico. Muito do que se passa por análise social hoje em dia, cai no reino do político e ideológico. Não tendo base para que façam suas críticas, aqueles que seguem este caminho, tendem a cair num incessante circulo de desconstrução que ultimamente conclui que a dominação está em todo lugar, a todo momento, que a liberdade é impossivel, e que portanto, deveriamos fazer o nosso melhor seja através da confomidade ou através de jogos teatrais de grupos de oposição como por exemplo os Tutti Bianche ("Macacões Brancos" em português. Grupo anti capitalista italiano de ação direta que simula confrontos contra a policia. N do T) cuja intenção é desafiar nada.
Discutivelmente, esta não é uma analise total, mas uma desculpa para evitar analises reais, com uma revolta concreta.
Porém a estrada da ideologia e do programa político não é mais util ao projeto de subversão. Porque este projeto é a transformação da existência num modo que destrói toda a dominação e exploração, e isto é inerentemente anti-político. A liberdade, concebida politicamente, é tanto um slogan vazio direcionado a ganhar a aprovação dos governados ( a "liberdade" americana pela qual bush esta lutando bombardeando o afeganistão e o iraque e aprovando leis cada vez mais repressivas em contrapartida) quanto o objetivo de continuar a dominação.
Liberdade e dominação se tornam quantitativos - uma questão de medida - e o primeiro é aumentado pela diminuição do último. É precisamente este tipo de pensamento que fez com que Kropotkin apoiasse os aliados na Primeira Guerra Mundial e que fornece a base para cada projeto reformista. Mas se liberdade não é meramente questão de estágios de dominação - se grandes jaulas e correntes não significam grande liberdade, meramente a possibilidade de maior mobilidade dentro de um contexto de servidão contínua aos dominantes desta ordem - Portanto todos os programas políticos e ideologias se tornam inuteis ao nosso projeto. Ao invés disso é precisamente para nós mesmos e para os nossos desejos que devemos nos direcionar - nosso desejo por uma existência qualitativamente diferente.
E o ponto de partida para as trasformações que procuramos vem a ser a nossas vidas e nossas relações. É aqui que começamos a minar a lógica da submissão com o objetivo de destruir toda dominação.
Desta forma, nossas análises do mundo são com objetivos de conseguir um entendimento de como levar adiante nossa própria luta no mundo e encontrar pontos de solidariedade ( quando enxergamos nossas lutas nas dos outros) para espalhar a luta contra a dominação, sem criar uma interpretação do mundo em termos de alguma ideologia. E nossas análises de nossas atividades são direcionadas em determinar o quão util elas são para alcançar aspirações, sem conformar nossas ações em nenhum programa. Se nosso objetivo é a transformação da existência, o desenvolvimento de relações de afinidades não é apenas uma tática de manobra. É a tentativa de desenvolver relações de liberdade dentro de um contexto de luta. Relacionamentos de liberdade desenvolvidos através de um profundo e sempre crescente conhecimento do outro - um conhecimento de suas idéias, aspirações, desejos, capacidades e inclinações. É sim um conhecimento das similaridades, porém, mais significativamente, é um conhecimento das diferenças, porque é no ponto da diferença que o conhecimento prático real começa, o conhecimento de como levar adiante projetos e criar vida com outros. É por esta razão que entre nós mesmos - assim como em nosso relacionamento o qual estamos lutando - é necessário evitar a prática da negociação e da constante busca de um acordo geral. Estas práticas são, apesar de tudo, o coração e a alma da forma democrática de dominação que atualmente governa o mundo, e portanto são expressões da lógica da submissão que precisamos erradicar de nossas relações.
Falsas uniões são de longe um grande obstáculo ao desenvolvimento de um projeto insurrecional do que os conflitos reais dos quais a inteligência individual e a imaginação criativa deva florescer brilhantemente.
As concessões das quais as falsas uniões desenvolvem são em si mesmas um sinal de submissão do projeto insurrecional ao projeto político.
Uniões conduzidas através de concessões são de fato a exata oposição da afinidade devido espalharem a supressao do conhecimento do próprio individuo e dos outros.Isto é o porque que se precisa de processos formais de tomada de decisão, que carregam as sementes da metodologia burocrática.
Onde existe um real conhecimento entre aqueles que estão levando adiante um projeto, o consenso formal não é necessário.
A consciência de cada individualidade cria uma base onde decisão e ação não precisam ser separadas. Esta é uma nova forma de sociabilidade que pode ser levada aqui e agora na luta contra a ordem dominante.
Uma forma de sociabilidade baseado num total gozo da singularidade de cada individuo, da maravilhosa diferença que cada um de nós carregamos em nós mesmos.
Na base dessas relações de afinidade, projetos reais que refletem o desejo e objetivos dos indivíduos envolvidos podem se desenvolver. No lugar de simplesmente um sentimento de que deve ser feito algo.
Seja um projeto de ocupação (squat), seja um projeto para compartilhar alimento, um ato de sabotagem, uma radio pirata, uma publicação, uma manifestação, ou um ataque contra uma das instituições de dominação, não será iniciado como uma obrigação política, mas como parte da vida de alguém que está empenhado em criar, como um florescer de uma existência individual auto determinada. E isto é então, e apenas então, que seu potencial subversivo e insurrecional floresce. Se o divertimento e a admiração, e uma maravilhosa e indomável existência é o que queremos, precisamos tentar alcançar isto aqui e agora, em desafio rebelde contra toda dominação, erradicando a lógica da submissão de nossas vidas, de nossos relacionamentos e de nossas lutas revolucionárias - pela destruição da política e pela criação da vida sem medidas.
Por Wolfi Landstreicher